La Salete Coelho
Why do we need global citizenship education?
Why do we need global citizenship education?
In this episode, learn how this theme is applied in formal education in Portugal. And how global citizenship learning can change when adapted to educational contexts in Global South countries.
Who joins us is La Salete Coelho, educator, researcher and projects consultant in the field of Education for Development and for Global Citizenship at GENE – European Network for Global Education, at the Polytechnic Institute of Viana do Castelo and at University of Porto’s Center for African Studies. She is involved in the Ibero-American General Secretariat’s Global Citizenship Initiative for Sustainable Development. She is a member of the Advisory Board of the ANGEL-Academic Network on Global Education and Learning and of the Comunidade Sinergias ED, also participating in the Editorial Board of the journal Sinergias – Educational Dialogues for Social Transformation.
Por que precisamos de uma educação para o desenvolvimento ou uma educação para a cidadania global?
Neste episódio saiba como esta temática é aplicada na educação formal em Portugal. E como o aprendizado de ‘cidadania global’ pode sofrer mudanças quando adaptado a contextos educacionais de países do Sul Global.
Quem nos conta é La Salete Coelho, educadora, investigadora e consultora em projetos na área da Educação para o Desenvolvimento e para a Cidadania Global no GENE – Rede Europeia de Educação Global, no Instituto Politécnico de Viana do Castelo e no Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. Está envolvida na Iniciativa Cidadania Global para o Desenvolvimento Sustentável da Secretaria-Geral Iberoamericana. É membro do Conselho Consultivo da ANGEL – Academic Network on Global Education and Learning e da Comunidade Sinergias ED, participando ainda no Conselho Editorial da revista Sinergias – Diálogos Educativos para a Transformação Social.
ANDRESSA PELLANDA: La Salete Coelho, seja muito bem vinda ao Eduquê. Pra começar a nossa conversa, queria saber sobre a questão conceitual, sobre a educação para o desenvolvimento. Pode explicar um pouquinho para a gente o que é esse conceito? A gente sabe que não é muito consensual e que tem várias expressões, significados. Pode falar um pouquinho sobre isso?
LA SALETE COELHO: Sim, claro. Então, o conceito de educação para o desenvolvimento e ou para a cidadania global – e só este já demonstra muita coisa. De facto, é um conceito complexo e um conceito polêmico. No fundo, surge um pouco com esta necessidade de fazer face aos desafios da globalização. Nós vivemos num mundo, num contexto globalizado, e percebe-se que a educação e a cidadania, como ela era vista até agora já não serve aquilo que é necessário neste momento, e por isso é necessário formar cidadãos e cidadãs com outro tipo de mentalidade, com outro tipo de competências, de conhecimentos, de valores e de atitudes. E por isso, se nós sabemos que este contexto é complexo em si, claro que uma educação que tem fazer face a este contexto não pode ser menos do que como também complexo. Por isso, o conceito da própria educação para o envolvimento e cidadania global é um conceito polémico porque pode ter mesmo até diferentes conotações em diferentes contextos. Mas, no fundo, há princípios e ideias comuns. Sempre que falamos a educação para o desenvolvimento e para a cidadania global. Temos que falar sempre de interdependência. Temos que falar sempre das questões de uma cidadania global e não de uma cidadania nacionalista. Por exemplo, olhar para a diversidade enquanto riqueza, a ter sempre os princípios da justiça social por baixo. Ter os direitos humanos também sempre como meta, como limite, a falar na participação, porque nós estamos a falar.
LA SALETE COELHO: Não é uma educação teórica, não é um estudo teórico. Sempre falamos de educação para o desenvolvimento e para cidadania global. É algo de prático, de ser levado à prática e rumo a uma transformação social. É algo que também está na base de ambos estes conceitos. Se nós quisermos utilizar, por exemplo, o conceito da Declaração de Maastricht, que é usada do Conselho da Europa e do Global Education Network, há muito para estudar desde 2002. Agora, com 20 anos, ela diz que a educação global ou a educação para o desenvolvimento e cidadania global é uma educação que abre os olhos das pessoas e as mentes para as realidades do mundo e, por isso, tem muito a ver com estes processos educativos de aprendizagem ao longo da vida. Esses que tentam, de facto, ajudar as pessoas num primeiro olhar para o mundo ao seu redor, depois a perceber que há alternativas e que poderiam ser construídas para que esse mundo seja melhor, seja diferente. E, em terceiro lugar, dotar os cidadãos e cidadãs de competências para poder intervir e, por isso, a nível conceptual… Digamos assim, e apesar de haver bastante debate à volta destes conceitos, eu acho que isto é aquilo que une, quer a educação para o desenvolvimento, quer cidadania global, quer educação global. São estas sobretudo as prioridades que estão por trás destes conceitos. Claro que, como há pouco, vocês também próprios diziam não é um conceito muito consensual e pode ter várias expressões e significados em diferentes contextos.
LA SALETE COELHO: Por exemplo, há uma autora brasileira, a Vanessa Andreotti, que é uma autora brasileira que trabalha no Canadá e que nos fala que existe uma educação para o desenvolvimento, cidadania global soft e uma ou outra crítica. Ou seja, já nos indica que pode haver diferentes fases, diferentes formas de testar, diferentes formas de intervir, e ela apresenta muitas limitações à educação para o desenvolvimento soft e diz que é crítica que nós devemos seguir por isso a leituras mais radicais e menos radicais do conceito. Há uma delas que estamos aqui e que às vezes é utilizada sobretudo em contexto asiático ou africano e tem muito a ver com o seu, com o contexto histórico mesmo dos destes continentes e que tem a ver com o facto de se achar que estes conceitos podem ter a ver com uma educação, com uma formação para um mercado de trabalho, para se competir melhor no mercado global. E esse conceito, por exemplo, é considerado por muitos autores como afastado daquilo que eu acabei de apresentar. Não é por isso um conceito destes, não. Entretanto, esta lógica que ia acabar de apresentar… Mas como dizia, há bastantes, dependendo do contexto. E a América Latina, por exemplo, é um exemplo nesse sentido. Há contextos que utilizam conceitos mais radicais e procuram mais alternativas ao modelos vigentes e que, de facto, vão mais neste sentido.
RUI DA SILVA: Obrigado por nos falar do conceito e destas diferentes perspectivas, desta polissemia, do conceito e desta perspectiva de soft e crítica. E pegando nesta questão do conceito que já está definido, gostaríamos de saber um pouco mais sobre a sua transposição para as políticas públicas. E sabemos também que em Portugal não há uma estratégia nacional de educação para o desenvolvimento. E como tem sido esta transposição para as políticas públicas deste conceito de educação para o desenvolvimento? Pode falar um pouco disso e também nos dizer se esta perspetiva, vigente em Portugal, tendo enquanto este conceito e crítica…
LA SALETE COELHO: Esta última parte é um bocadinho Tricky. Vamos lá ver. Sim, é verdade. Existe uma rede europeia Global Education Network Europe, o tal GENE, que tem promovido a elaboração de estratégias nacionais ao longo dos diferentes países europeus, sobretudo. E Portugal esteve dentro deste processo. Está dentro deste processo desde 2008. Em 2008 houve um intercâmbio de Portugal com a Áustria, promovido por este GENE, por alguns atores nacionais em Portugal. Um intercâmbio para que nós pudéssemos aprender um pouco como é que a Áustria tem feito o seu processo de forma nós próprios, também aqui em Portugal, elaborarmos o nosso processo da nossa agenda nacional nesta área. Por isso, entre 2008 e 2010, houve este processo participativo colaborativo de elaboração da estratégia, sobretudo liderada por quatro atores principais nesta área em Portugal, que é o Camões, o Instituto Português da Cooperação e da Língua, que é a Direção-Geral de Educação, representando o Ministério da Educação, a plataforma portuguesa das ONGD, representando as Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento e o Cidan que é mais antiga vendida e portuguesa a trabalhar esta área de atuação para o desenvolvimento em Portugal. Este grupo chamado Comissão de Acompanhamento liderou o processo de elaboração desta estratégia e agora supervisiona este modelo também de implementação.
LA SALETE COELHO: Este núcleo, este núcleo central, é acompanhado por mais entidades. Neste momento são ao todo 16 que nós chamamos entidades subscritoras do Plano de Ação da Rede, da Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento, que são entidades de diversas naturezas. Por isso, temos entidades públicas, entidades privadas e da sociedade civil. Quer atuar na área do desenvolvimento, quer atuar na área das alterações climáticas, da juventude, dos direitos humanos, da igualdade entre homens e mulheres, da das migrações, por exemplo. Pois temos, temos uma abordagem muito holística e este conceito de educação para o desenvolvimento e por isso, neste momento esta estratégia é implementada desde 2010. Entre 2010 e 2015 tivemos uma primeira fase e agora, entre 2018 e 2022 estamos na segunda fase e por isso esta estratégia implementada por estas 16 entidades subscritoras tem provado sobretudo e tem sido um exemplo prático do envolvimento dos atores nesta área. Em Portugal, os atores principais têm sido as ONGD, mas também esta diversidade de entidades públicas que nós acabamos de referir. Por outro lado, também gostaria de salientar o papel das escolas superiores de educação. Claro que estamos aqui entrar um bocadinho na educação formal, mas também são atores que têm sido muito importantes na implementação desta prática em Portugal.
LA SALETE COELHO: Relativamente à segunda pergunta que me colocou esta questão se é mais crítica ou se é mais soft. A verdade é que, na sua própria definição do conceito, a estratégia tem uma abordagem bastante crítica porque fala num processo de aprendizagem ao longo da vida, comprometido com a formação integral das pessoas, o desenvolvimento de um pensamento crítico eticamente informado para esta transformação social. Ou seja, a nível de intenções, ela está claramente lá, agora ao nível das práticas e eu acho que este é um caminho quer individual, quer institucional. Tem que se estar atento. A própria Vanessa Andreotti criou uma série de ferramentas tipo checklist que nos ajudam a tentar perceber se, de facto, aquilo que nós estamos a fazer é mais só aquilo que nós estamos a fazer. É mais crítico e por isso eu acho. Ajudados por estas ferramentas e por outras, eu acho que há uma preocupação individual de quem trabalha nesta área institucional para seguir um caminho cada vez mais crítico. Se estamos lá a todos e todas, acho que ainda não. Acho que é um processo e acho que estamos nesse processo. Mas só termos esta consciência e estarmos neste caminho, acho que já é algo muito interessante.
ANDRESSA PELLANDA: Não é que a gente tinha uma pergunta sobre a questão da contestação mais recente a essa disciplina que aconteceu em Portugal. E aí eu queria entender se isso que você coloca em termos de que a prática está ainda avançando em processo, tem a ver também com essa contestação ou não. Se você pode comentar um pouquinho sobre isso aí.
LA SALETE COELHO: Essa área de educação para o desenvolvimento e para a cidadania global, eu há pouco referia… Foi uma área que começou um bocadinho pelos âmbitos da educação, não formal, porque é uma política pública que é sobretudo até liderada pelo Camões. Como dizia há pouco, muita história. O Ministério dos Negócios Estrangeiros desta área mais do desenvolvimento. Depois foi entrando cada vez mais nos campos da educação formal. Até porque eu também já disse à Direção-Geral de Educação. Por isso, o responsável e representante do Ministério da Educação nesse grupo de trabalho tem conseguido fazer integrar cada vez mais estas temáticas na área das políticas públicas em educação em Portugal, por exemplo. E essa contestação que fala acontece sobretudo desde 2000. Em 2018, em que houve um novo enquadramento do sistema educativo em Portugal, houve uma nova reforma, digamos assim, que está presente em dois principais documentos. Um deles é o perfil dos alunos, a saída da escolaridade obrigatória. E esse documento é fundamental em Portugal. E desculpe voltar um bocadinho atrás, mas acho que sem esta história não se percebe exatamente o contexto. Por isso, esta questão do perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória é um documento que apresenta quais são os valores, os princípios, as áreas de competência que o sistema educativo em Portugal deseja. Digamos assim. Qual é o objetivo? E eu acho que é muito importante este tipo de documentos, porque eu não sei. No Brasil, mas em Portugal há muito esta discussão.
LA SALETE COELHO: Se o sistema educativo é neutro, deveria ser neutro? Não deveria. E eu não acredito em sistemas educativos neutros. Eu acho que todos os sistemas educativos são ideológicos, mesmo aqueles que dizem que são neutros. Só isso já é uma posição ideológica e por isso eu gosto quando os sistemas educativos dizem aquilo a que vêm. E depois posso concordar ou não concordar. Mas se eu tenho um documento claro que me diz a que vem este sistema, esta reforma, neste momento eu posso me posicionar com verdade e eu creio que o perfil dos alunos, a escolaridade obrigatória, é um documento que diz exatamente qual é o caminho que se deseja a educação em Portugal. E há aqui um pendor claramente humanista. Ao contrário do que acontecia anteriormente em Portugal, noutras reformas este traz claramente um pendor humanista. E quais são os valores desta educação humanista e os princípios das áreas de competências e por aí fora acompanhar este documento. E porque a questão humanista é fundamental e não só a parte tecnocrática, digamos assim. Surge outro documento neste contexto, chamado a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, que é uma estratégia nacional que deve, que está a, digamos assim, transversalmente, a influenciar todo o sistema educativo. Neste momento é um documento transversal. O que nós chamamos aqui, até em inglês, usando a palavra inglesa ou old school approach. Por isso a ideia da abordagem a toda a escola.
LA SALETE COELHO: E é esta estratégia que refere uma nova componente curricular, a componente de cidadania e desenvolvimento, que tem 17 domínios, ou seja, que há uma espécie de 17 subtemas que devem ser trabalhados nesta componente curricular em alguns anos escolares de escolaridade a esta componente eletiva, ou seja, 01h00 no horário para ela. Noutros ciclos ela é transversal e todos os docentes e todos os docentes têm que trabalhar lá. Então, a nível de turma, o que acontece? Alguns destes domínios são domínios que apelam mais a valores, por exemplo, a crenças e formas de olhar para a sociedade, do olhar para o mundo. E foi isso que gerou alguma contestação. De facto, temos um caso mediático e acho também importante dizer isso. Temos um caso mediático que foi muito mediático, mas foi um não saísse todos os pais. Não conheço. Desconheço se em Portugal houve pais à porta das escolas com esta componente curricular. Eu acho que não. Agora houve um caso que, de facto foi instrumentalizado por um grupo da sociedade que é contra o trabalhar. E nem é Cidadania e Desenvolvimento. São alguns dos domínios que estão dentro da cidadania e desenvolvimento e são os tradicionais polémicos. Não há aqui nada de espantoso. São as questões da igualdade de gênero, sem dúvida nenhuma, seja ela mais ligada à orientação sexual, seja ela a igualdade entre mulheres e homens. Até se fala, por exemplo, quem está contra estas áreas falar em ideologia de gênero.
LA SALETE COELHO: Por isso há essa perspectiva. E depois, por outro lado, temos as questões também da educação sexual, que também é um dos domínios e que nós sabemos que eu andava na escola na década de 90 e já havia contestação a esta disciplina. Por isso também não é algo novo, não. Ao fim de 30 anos estamos à volta da vida, ao disco que toca ao mesmo, como dizemos em Portugal. Por isso, eu acho que esta contestação deve ser pensada, até porque eu acho que se a contestação, se alguém está desconfortável, nós devemos falar sobre o assunto. Não acho que devamos tapar. Mas devemos tentar perceber o porquê e, enquanto escola pública, tentar tomar a decisão que seja melhor para a maioria, porque eu acho que essa questão é o desígnio da escola pública e exatamente estar ao serviço da maioria. E por isso eu costumo analisar esta esta questão de várias perspetivas. Uma delas é isto o primeiro é pô-la no sítio dizendo que não há uma contestação, há um caso. Houve um caso muito específico de uma família que depois levou à assinatura de um manifesto contra esta disciplina, sendo que ela nem sequer é uma disciplina que sempre expliquei, mas que também foi imediatamente seguido por um manifesto em sentido contrário, o que significa que a sociedade portuguesa está muito dividida face a esta esta questão. Em segundo lugar, também fazer questionar o tal papel ideológico por cada disciplina e componente curricular que foi questionada por ser ideológica.
LA SALETE COELHO: E a minha questão é: mas não são todas ideológicas. A história, como é contada, não é completamente. É ideológica e pode se anular. E eu posso agora decidir que a minha filha não vai à história só porque não gosto da forma como a história está contada. Ou seja, por que a cidadania pode ser tornada facultativa e a história não pode ser, percebe? Por isso eu acho que esta é outra outra abordagem e eu costumo fazer esta reflexão também. O currículo da língua portuguesa, a literatura, as obras que se escolhem, tudo isso é ideológico. Por isso acho que faz e faz parte também do papel da escola e da própria, as famílias estarem atentas aquilo que é trabalhado nas disciplinas, na escola. Ser mais a favor, ser mais contra, criticar. Quantas conversas eu tenho com a minha filha sobre diversos temas de história, quando ela mostrar mais sobre a forma como eles são trabalhados na escola e em último lugar. Eu gostava também de refletir sobre o que é que esta componente curricular traz para a sala de aula, porque ela não traz verdades e certezas. Se fosse dessa forma, aliás, em todo o sistema educativo, diria eu. E não é o papel da educação, não é trazer receitas, não é vir dizer lá sair. Vou buscar o aborto, que é um caso e, se for o caso, muito contestado, que é correto, que não é correto.
LA SALETE COELHO: Não é esse o papel de uma componente curricular de cidadania e desenvolvimento e trazer as perspetivas? Quando se fala sobre este assunto e daí depois as crianças podem chegar a casa, falar com os seus familiares, os seus colegas e ir informando as suas opiniões. Por isso, eu própria, quando a minha filha me traz muitas certezas sobre estes temas polémicos, eu própria em casa reflito com ela. Já me vi a defender posições que eu não concordo, mas só porque ela tinha uma certeza muito absoluta do ponto de vista contrário. E então eu faço perguntas para ver uma e mesmo assim está a pensar, mesmo que às vezes não, não seja aquilo que eu penso. Mas este é o papel da cidadania e desenvolvimento. Não é trazer receitas, é fazer, pensar e fazer. Questionar é o tal pensamento crítico e eticamente informado. E por isso, neste sentido, eu acho que esta componente curricular faz todo o sentido. Está em toda a lógica de ser trabalhado com esta perspetiva. Claro que haverá docentes que trabalham de uma forma mais correta, menos correta está a escola e cabe às famílias e estarem atentos. Assim como estamos atentos a milhares de outras coisas que correm mal na escola e que podem correr mal. Por isso, para mim não é justificação para se acabar com a componente curricular. É um convite às famílias estarem mais interventivas na escola.
ANDRESSA PELLANDA: A gente também aqui discute bastante essa questão da neutralidade da educação, inclusive porque temos Paulo Freire como um dos educadores brasileiros, que traz bastante essa discussão. E com essa questão da contestação que trouxe, me lembrou muitos casos que a gente tem estudado a nível internacional. Essa agenda da ideologia de gênero e de censuras, até de algumas discussões nas escolas, tem acontecido a nível transnacional e aqui no Brasil também tivemos bastante esse caso. Foram aprovadas leis de um movimento que se chama Escola Sem Partido, justamente, que buscava impedir que discussões sobre gênero, sexualidade e até discussões políticas mais amplas sobre história do Brasil não fossem discutidas nas escolas. E isso chegou ao Supremo Tribunal Federal. A gente fez ações, inclusive, para que esse tipo de censura fosse impedido pelo Supremo. E foi a decisão dele. Então foram suspensas todas as leis subnacionais que foram aprovadas desse movimento escola sem partido. E agora a gente está numa agenda de educação domiciliar, de regulamentação dessa educação domiciliar, num sentido muito próximo de contenção e controle por parte das famílias sobre qual é o conteúdo dessa educação. Então é um movimento muito parecido. E aí, dentro dessa perspectiva, você poderia trazer também alguns aspectos que você considere relevantes sobre esse tema da cidadania global da educação para o desenvolvimento, que aconteceram também em outros espaços da Europa e da América Latina da América do Sul.
LA SALETE COELHO: O que, em casos mais práticos, não estou assim preparada para apresentar, mas a nível da nossa ideia de perspectivas e de apontamento de políticas e de direções, eu acho que sim. Acho que posso aqui partilhar algumas coisas. Então, por um lado, é claro, como vocês costumam dizer, a minha visão é muito parcial. Não é o meu lugar de fala, é muito e isso é muito reduzido. Mas a nível europeu, por exemplo, eu acho que neste momento nós vivemos um momento difícil. Não é como todos nós sabemos em que temos. Por um lado, há aqui extremismos, sobretudo ao lado da extrema direita, que tem colocado muito em causa as temáticas da educação para o desenvolvimento e para a cidadania global. Só o próprio conceito de cidadania global é posto em causa, porque estamos cada vez numa cidadania retroceder para ideias cada vez mais nacionalistas. Eu sou da altura em que me lembro de cair o Muro de Berlim. Não imaginava e eu na minha vida veria outra vez muros surgirem. Europa afora. Não imaginava, eu que sou da geração da União Europeia. Lembro me de ir ao Parlamento Europeu enquanto jovem, enquanto no secundário não imaginava e eu queria ver países a saírem da União Europeia. Por isso nós estamos numa fase de facto na Europa, de retrocesso a nível desta construção de uma cidadania mais coletiva, mais ampla até da cidadania europeia, não só da cidadania global, mas da cidadania europeia. Por isso, há uma linha muito forte nesse sentido.
LA SALETE COELHO: Temos governos, e não preciso os nomear. Temos governos cada vez mais extremistas nesse sentido, mas a verdade é que ainda há espaços na Europa interessados em construir o seu contrário. E eu aqui gostaria de salientar que posso salientar, por exemplo, o Conselho da Europa que através do Centro Norte-Sul, por exemplo, tem atualizado e tem reforçado muito esta área da educação para a cidadania global, até publicando recursos, atualizando uma publicação que eles tinham as guidelines, os guias práticos para a educação global. Para isso, o Conselho da Europa tem apostado muito neste sentido. A própria Comissão Europeia, com todas as suas fragilidades e defeitos, mantém uma linha de financiamento de uma linha de programa chamada de Year Development Education Where Is Raising? Que financia projectos europeus e promovendo também a relação com parceiros do sul do mundo. Surge o gráfico, neste caso nesta linha também de educação para o desenvolvimento, para a cidadania global. Para construir um bocadinho esta este sentimento de pertença. Temos este Global Education Network Europe, que é uma rede interministerial que é uma rede que congrega ministérios geralmente ou dos Negócios Estrangeiros ou de Educação, que são aqueles que geralmente trabalham estas áreas para coordenarem políticas nestas áreas a nível europeu, para aprenderem em conjunto com o mundo, como dizia que nós nós aprendemos da Áustria e agora podemos passar o nosso exemplo também noutros países. Por isso, eu creio que há aqui um espaço de desenvolvimento.
LA SALETE COELHO: Há pouco falava na Vanessa Andreotti e outros investigadores. Foi criada há muito recentemente a Indian Academic Network of Global Education and Learning, que não é uma rede europeia, é uma rede internacional mundial e podemos dizer assim que tenta também congregar investigadores à volta desta área. Foi criada há quatro, cinco anos, creio que até 2017, por isso eu acho que há caminhos que também contrariam, digamos assim, este caminho extremado e que tentam construir do outro lado. Por isso eu sou positiva, sou surrealista, mas também gosto de ser otimista. Sou o fiéis, sou uma realista, optimista e creio que há caminhos. Ainda há espaços, espaços de resistência, quase sempre usar espaços nesse sentido. Da América Latina também já tivemos tempos melhores na América Latina que durante muito tempo, para mim, foi um farol de resistência, de alternativas, de experimentação. Também teve certos retrocessos. Do meu ponto de vista, mais uma vez, no lugar da fala, está numa fase também de algum retrocesso, porque acho que isto é um bocadinho global. Não estamos todos a ser afetados e infetados por estas questões globais que andam por aí, mas acho que também há muitas pistas e há muitas pistas de mudança. Quando me apresentaram, falaram da Iniciativa Ibero americana da Cidadania Global para o Desenvolvimento Sustentável. Este é um programa que está a começar neste momento que que acontece no âmbito da SEGIB, a secretaria geral ibero americana e que neste momento congrega vários países o Chile, o Paraguai, a República Dominicana, o Uruguai.
LA SALETE COELHO: E acho que são esses quatro países da América Latina mais Portugal, Espanha e Andorra, por isso espanhol e luso falantes e que, em conjunto entre estes três países europeus e estes quatro países da América Latina, se está a tentar criar um projeto para dinamizar agendas nacionais um bocadinho nesta área, quer na educação formal, quer na educação informal. Por isso, eu acho que há bons sinais acontecerem. A própria ANGEL, a tal rede académica, está a ter um interesse muito grande. O ano passado, em julho, tivemos uma mesa redonda só com investigadores brasileiros. Temos, por exemplo, a Sylvia Morais, da Universidade Federal do Ceará, ou Thiago Galvão, da Universidade Brasília, Fernanda Rattes ou Tania Ramalho, a brasileira que vive nos Estados Unidos, a Universidade Estatal de Nova Iorque, em Ausubel, e que nos reunimos exatamente num evento para discutir: o que é isto? Aquela pergunta que vocês me fizeram, o que é isto de educação para o desenvolvimento e cidadania global no Brasil? Faz sentido a nível de conceito, mas é a nível de práticas. Faz sentido? Como é que se chama? É interessante que nós acabamos com uma conclusão de que há um conceito no Brasil que traduz melhor esta área. É a educação para a cidadania planetária, muito na linha do que falou há pouco do Paulo Freire e até do Edgar Morin e do filósofo francês. E que é que é o mais utilizado, por exemplo, nas universidades brasileiras? Esta ideia de cidadania planetária? Isto porque global pode exatamente levar ao erro da globalização neoliberal e por isso preferem não usar este conceito e preferem é desenvolvimento.
LA SALETE COELHO: Também é um conceito que esta ideia de desenvolvimento ser só no Norte e isso seria ser importado do Norte. Então decidiram usar educação para a cidadania planetária e por isso é uma riqueza, não é este intercâmbio de ideias. Uma riqueza cresceu de tal forma dentro da ANGEL, teve um interesse tão grande. E este evento que eu agora falei – desculpem, vou voltar atrás – foi em português, mas houve tantas pessoas que tiveram pena dentro da ANGEL em não poder seguir o evento por ele ser em português e agora decidiu se fazer uma nova mesa redonda. Vai acontecer no dia 1 de junho e vai englobar a Sylvia Moraes, da mesma no estado do Ceará, mas também a Cruz Prado Rocha, da Universidade de António Valdivieso da Nicarágua, e também o colega Israelo Arthur Orrego Etxebarria, da Universidade da Colômbia do município da Colômbia, exatamente para discutirem como é que estes assuntos estão a ser tratados na América Latina. Por isso, mais do que olhar para a América Latina, é importante ter pessoas da América Latina a olharem para si próprias e a comunicarem com o resto do mundo. E é isso também que nós temos tentado promover através da própria Igreja. E ficam assim só aqui alguns exemplos.
RUI DA SILVA: Sim, obrigado por esta perspetiva. E não é que partimos desde do conceito, podemos dizer de Portugal, por exemplo, de outros países europeus, de redes e América Latina? E este foco, agora no final, no Brasil, é uma das palavras chave que que destacou quando estávamos agora que estava agora a fazer a sua apresentação, falou aprender em conjunto e para finalizar vos esta esta nossa conversa, tendo em conta esta aprendizagem em conjunto com o conselho que dá porque está na linha da frente e educação, tendo por base este seu envolvimento na educação para o desenvolvimento e Educação, Parceria Global e educação para a cidadania planetária.
LA SALETE COELHO: Somos muito inclusivos. Eu gosto muito de uma frase do Oscar Jara, que também aqui é da América Latina, da Costa Rica, um grande educador popular e herdeiro de Paulo Freire, que nos diz que exatamente põe nos em cima da mesa aquela questão do ser ideológica ou não, da educação ser ideológica ou não ser ideológica. E ele diz-nos que quando estamos envolvidos na educação, temos logo que fazer uma escolha. E eu acho que muitas vezes nós, educadores e educadoras, não temos essa escolha na nossa cabeça. Estamos apenas a cumprir programas a cumprir manuais e essas questões, e muitas vezes não temos esta definição logo na cabeça. Qual é essa definição? Ele diz que nós temos duas opções. Na educação, sempre que é ou optar por processos educativos que nos permitam adaptar às mudanças que estão a decorrer nas sociedades e, por isso, aquela preparação para o mercado de trabalho que é necessário neste momento. Ou então promover processos educativos que nos permitam formar pessoas que tenham capacidades para sonhar e construir este sonho e esta sociedade que sonharam. E de facto, eu acho que esta é a grande questão para todos os educadores ou educadoras. Em que linha é que eu me encontro? E porque o primeiro vai apontar para caminhos de que ele chama de conformismo, de submissão, de tranquilidade? Não é de seguir o caminho que já foi trilhado por outros.
LA SALETE COELHO: É um caminho passivo. E esta segunda via dos processos educativos que permitem sonhar e ganhar competências para executar, pôr em prática esta transformação traz inquietude, traz curiosidade, traz incerteza, traz transgressão. Diz mesmo o Oscar Jara. Mas, de facto, faz de nós construtores e construtores. Não faz de nós só passivos assistentes. E eu acho que o conselho que eu dou a educadores e educadoras é exatamente pensarem por que que são de 14 educadoras e pensarem qual é o caminho que desejam, o que é que pretendem formar. Não é demais que se deixem também transformar por estes processos educativos, porque nós todos, como dizia há pouco, eu não sei se estou. Eu gostaria é na lista check list da Vanessa Andreotti ela dissesse que eu estou na EDSG crítica, agora eu não sei. Eu sei que pelo menos quero estar nesse processo. Quero estar em silêncio e por isso eu acho que era este conselho que era, enquanto educadoras e educadoras, que reflitamos. Por um lado, onde é que queremos estar e depois estarmos atentos e atentas em todo o processo para ver se de facto as nossas práticas estão a ajudar a fazer, para que de facto caminhamos cada vez mais para um mundo mais equitativo, mais solidário, mais justo, onde todas as pessoas valham o mesmo, que não é isso que nós vamos, infelizmente vendo neste momento.
ANDRESSA PELLANDA: Obrigada, Salete, muito inspiradora, e me lembrou o livro da bell hooks, Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade, que dialoga com todos esses autores que você citou. Inspirador. Muito obrigada pela sua participação aqui. Mais do que com certeza, a gente gostaria de conversar mais. Eu tenho certeza que quem está ouvindo a gente também e a gente vai deixar nas referências dos. Links também para o seminário e os estudos que citou para que nossos ouvintes possam se aprofundar e também entrar nessa rede de ensinar a transgredir.
LA SALETE COELHO: Obrigada, obrigada. Eu sei, foi um prazer participar aqui. Não é, mais do que já acostumo ouvir com muito gosto. Obrigado.
ANDRESSA PELLANDA: La Salete Coelho, welcome to Eduquê. To start our conversation, I would like to know about the conceptual issue, about education for development. Can you explain a little bit to us what this concept is? We know that it is not very consensual and that it has several expressions, meanings. Can you talk a little bit about that?
LA SALETE COELHO: Yes, of course. So, the concept of education for development and/or global citizenship – and this one alone already demonstrates a lot. In fact, it is a complex concept and controversial concept. Basically, it arises a little from this need to face the challenges of globalization. We live in a world, in a globalized context, and it is clear that education and citizenship, as it was seen until now, no longer serve what is needed at the moment, and that is why it is necessary to train citizens with another type of mentality. , with other types of skills, knowledge, values and attitudes. And so, if we know that this context is complex in itself, it is clear that an education that has to face this context cannot be less than complex as well. Therefore, the concept of education for global involvement and citizenship is a controversial concept because it can even have different connotations in different contexts. But deep down there are common principles and ideas. Whenever we talk about education for development and global citizenship. We always have to talk about interdependence. We always have to talk about issues of global citizenship and not nationalist citizenship. For example, looking at diversity as wealth, always having the principles of social justice underneath. Always having human rights as a goal, as a limit, talking about participation, because we are talking about it.
LA SALETE COELHO: It is not a theoretical education, it is not a theoretical study. We always talk about education for development and global citizenship. It is something practical, to be put into practice and towards a social transformation. It is something that also underlies both of these concepts. If we want to use, for example, the concept of the Maastricht Declaration, which is used by the Council of Europe and the Global Education Network, there is a lot to study since 2002. Now, 20 years old, she says that global education or for development and global citizenship is an education that opens people’s eyes and minds to the realities of the world and, therefore, has a lot to do with these educational processes of lifelong learning. Those who try, in fact, to help people first look at the world around them, then to realize that there are alternatives and that could be built so that this world is better, to be different. And, thirdly, to provide citizens with the skills to be able to intervene and, therefore, at a conceptual level… Let’s say, and despite there being a lot of debate around these concepts, I think this is what unites, whether education for development, global citizenship, or global education. These are above all the priorities behind these concepts. Of course, as you also said earlier, it is not a very consensual concept and can have different expressions and meanings in different contexts.
LA SALETE COELHO: For example, there is a Brazilian author, Vanessa Andreotti, who is a Brazilian author who works in Canada and who tells us that there is education for development, soft global citizenship and some criticism. In other words, it already indicates that there can be different phases, different ways of testing, and different ways of intervening, and it presents many limitations to education for soft development and says that it is critical that we must therefore follow more radical and fewer concept radicals. There is one of them that we are here and that is sometimes used mainly in an Asian or African context and has a lot to do with yours, with the historical context of these continents and that has to do with the fact that you think that and these concepts may have to do with education, with training for a job market, to compete better in the global market. And this concept, for example, is considered by many authors as far from what I have just presented. That’s not why it’s such a concept, no. However, this logic that I was just going to present… But as I said, there are quite a few, depending on the context. And Latin America, for example, is an example in this regard. There are contexts that use more radical concepts and seek more alternatives to the current models and that, in fact, go more in this direction.
RUI DA SILVA: Thank you for telling us about the concept and these different perspectives, this polysemy, the concept and this perspective of soft and critical. And taking this issue of the concept that is already defined, we would like to know a little more about its transposition to public policies. And we also know that in Portugal there is no national education strategy for development. And how has this concept of education for development been transposed into public policies? Can you talk a little about this and also tell us if this perspective, current in Portugal, having this concept and criticism…
LA SALETE COELHO: This last part is a bit tricky. Let’s see. Yes, it’s true. There is a European network Global Education Network Europe, the so-called GENE, which has promoted the elaboration of national strategies throughout the different European countries, above all. And Portugal was part of this process. It has been part of this process since 2008. In 2008 there was an exchange between Portugal and Austria, promoted by this GENE, by some national actors in Portugal. An exchange so that we could learn a little about how Austria has been doing its process so that we ourselves, also here in Portugal, can prepare the process of our national agenda in this area. Therefore, between 2008 and 2010, there was this collaborative participatory process of strategy elaboration, mainly led by four main actors in this area in Portugal, namely Camões, the Portuguese Institute for Cooperation and Language, which is the Directorate-General for Education, representing the Ministry of Education, the Portuguese platform of NGDOs, representing Non-Governmental Organizations for Development and Citizen, which is the oldest sold and Portuguese working in this area of action for development in Portugal. This group called the Monitoring Committee led the process of elaborating this strategy and now oversees this implementation model as well.
LA SALETE COELHO: This nucleus, this central nucleus, is accompanied by more entities. At this moment, there are a total of 16 that we call subscribing entities to the Network’s Action Plan, to the National Strategy for Education for Development, which are entities of different natures. Therefore, we have public entities, private entities and civil society. It wants to work in the area of development, wants to work in the area of climate change, youth, human rights, equality between men and women, and migration, for example. Well, we have, we have a very holistic approach and this concept of education for development and that’s why, at the moment, this strategy has been implemented since 2010. Between 2010 and 2015 we had the first phase and now, between 2018 and 2022 we are in the second phase and this strategy implemented by these 16 subscribing entities has proved above all and has been a practical example of the involvement of actors in this area. In Portugal, the main actors have been the NGDOs, but also this diversity of public entities that we have just mentioned. On the other hand, I would also like to emphasize the role of higher education schools. Of course, we are here to get into formal education a little bit, but they are also actors that have been very important in the implementation of this practice in Portugal.
LA SALETE COELHO: Regarding the second question that I was asked, this question is more critical or if it is softer. The truth is that, in its very definition of the concept, the strategy has a very critical approach because it speaks of a lifelong learning process, committed to the integral formation of people, the development of ethically informed critical thinking for this social transformation. . In other words, at the level of intentions, it is clearly there, now at the level of practices and I think this is both an individual and an institutional path. You have to be attentive. Vanessa Andreotti herself created a series of checklist-like tools that help us try to understand if, in fact, what we are doing is more just what we are doing. It’s more critical and so I think. Helped by these tools and others, I think that there is an individual concern of those who work in this institutional area to follow an increasingly critical path. If we are there to all and all, I don’t think so yet. I think it’s a process and I think we’re in that process. But just having this awareness and being on this path, I think it’s already something very interesting.
ANDRESSA PELLANDA: It’s not that we had a question about the most recent challenge to this discipline that took place in Portugal. And then I would like to understand if what you put in terms of the practice is still advancing in the process, also has to do with this contestation or not. If you can comment a little bit about it there.
LA SALETE COELHO: This area of education for development and for global citizenship, I mentioned earlier… It was an area that began a little in the spheres of non-formal education because it is a public policy that is mainly even led by the Camões. As I said earlier, a lot of history. The Ministry of Foreign Affairs of this area is more of the development. Afterward, he entered more and more into the fields of formal education. Also because I already told the Directorate-General for Education. Therefore, the responsible and representative of the Ministry of Education in this working group has managed to increasingly integrate these themes in the area of public policies in education in Portugal, for example. And this contestation that you speak about has been happening mainly since 2000. In 2018, when there was a new framework for the education system in Portugal, there was a new reform, so to speak, which is present in two main documents. One of them is the profile of students, on compulsory schooling. And this document is fundamental in Portugal. And sorry to go back a little bit, but I think that without this story you don’t understand exactly the context. Therefore, this issue of the profile of students leaving compulsory education is a document that presents the values, principles, and areas of competence that the educational system in Portugal wants. Let’s say so. What’s the point? And I think this kind of documents is very important, because I don’t know. In Brazil, but in Portugal there is a lot of this discussion.
LA SALETE COELHO: If the education system is neutral, should it be neutral? Should not. And I don’t believe in neutral education systems. I think all education systems are ideological, even those that say they are neutral. That alone is an ideological position and that’s why I like it when educational systems say what they come to. And then I can agree or not agree. But if I have a clear document that tells me where this system, this reform is coming from, at this moment I can truthfully position myself and I believe that the profile of students, compulsory schooling, is a document that tells you exactly which way to go. that education in Portugal is desired. And there is a clearly humanistic bent here. Contrary to what happened previously in Portugal, in other reforms, it clearly has a humanist bent. And what are the values of this humanistic education and the principles of the areas of competence and so on accompany this document. And because the humanist question is fundamental and not just the technocratic part, so to speak. Another document appears in this context, called the National Education Strategy for Citizenship, which is a national strategy that should let’s say, transversally, influence the entire education system. At the moment it is a transversal document. What we call here, even in English, using the English word or old school approach. Hence the idea of the whole school approach.
LA SALETE COELHO: And it is this strategy that refers to a new curricular component, the citizenship and development component, which has 17 domains, that is, that there are a kind of 17 sub-themes that must be worked on in this curricular component in some school years of schooling to this elective component, that is, 01:00 am on time for it. In other cycles it is transversal and all teachers and all teachers have to work there. So, at the class level, what happens? Some of these domains are domains that appeal more to values, for example, to beliefs and ways of looking at society, looking at the world. And that’s what sparked some controversy. In fact, we have a media case and I think it’s also important to say that. We have a media case that was very mediatic, but it was not all parents. I don’t know. I do not know if in Portugal there were parents at the door of schools with this curricular component. I think not. Now, there was a case that, in fact, was instrumentalized by a group in society that is against working. And neither is Citizenship and Development. These are some of the domains that are part of citizenship and development and are the traditional controversial ones. There is nothing terrifying here. These are the issues of gender equality, without a doubt, whether it is more linked to sexual orientation or equality between women and men. It is even said, for example, that those who are against these areas talk about gender ideology.
SALETE COELHO: That’s why there is this perspective. And then, on the other hand, we also have the issues of sex education, which is also one of the domains and that we know that I was at school in the 90s and there was already a dispute about this subject. So it’s not something new either, no. After 30 years we are back to life, to the record that plays to it, as we say in Portugal. That’s why I think this contestation should be thought through because I think that if the contestation if someone is uncomfortable, we should talk about it. I don’t think we should cover it up. But we must try to understand why and, as a public school, try to make the decision that is best for the majority, because I think that this issue is the purpose of the public school and exactly to be at the service of the majority. And so I tend to analyze this issue from several perspectives. One of them is that the first is to put it in place saying that there is no contestation, there is a case. There was a very specific case of a family that later led to the signing of a manifesto against this discipline, which is not even a discipline that I have always explained, but which was also immediately followed by a manifesto to the contrary, which means that the Portuguese society is very divided on this issue. Secondly, it questions the ideological role of each discipline and curricular component that was questioned for being ideological.
LA SALETE COELHO: And my question is: but they are not all ideological. The story, as it is told, is not complete. It is ideological and can cancel itself out. And I can now decide that my daughter doesn’t go into the story just because I don’t like the way the story is told. In other words, why citizenship can be made optional and history cannot be, you see? So I think this is another approach and I usually do this reflection too. The curriculum of the Portuguese language, the literature, the works that are chosen, all of this is ideological. That’s why I think that it is and is also part of the role of the school and the school itself, for families to pay attention to what is worked on in the subjects, at school. Be more in favor, be more against, criticize. How many conversations do I have with my daughter about various history topics when she shows more about how they are worked at school and last. I would also like to reflect on what this curricular component brings to the classroom because it does not bring truths and certainties. If that were the case, in fact, throughout the educational system, I would say. And it’s not the role of education, it’s not about bringing in recipes, it’s not about telling people to get out there. I’m going to look for abortion, which is a case and, if applicable, very contested, which is correct, which is not correct.
LA SALETE COELHO: Isn’t that the role of a curricular component of citizenship and development and to bring perspectives? When this subject is discussed, then the children can come home, talk to their relatives, their colleagues and inform their opinions. That’s why, when my daughter brings me many certainties about these controversial topics, I myself reflect with her at home. I’ve seen myself defending positions that I don’t agree with, but only because she was absolutely sure of the opposite point of view. And then I ask questions to see one and even then it’s thinking, even if sometimes not, it’s not what I think. But this is the role of citizenship and development. It’s not bringing recipes, it’s doing, thinking and doing. Questioning is such critical and ethically informed thinking. And so, in this sense, I think this curricular component makes perfect sense. It is in all logic to be worked with this perspective. Of course, there will be teachers who work in a more correct way, the school is less correct and it is up to families to be attentive. Just as we are aware of thousands of other things that go wrong at school that could go wrong. Therefore, for me, it is not a justification for ending the curricular component. It is an invitation to families to be more involved in school.
ANDRESSA PELLANDA: We also discuss this issue of the neutrality of education a lot here, also because we have Paulo Freire as one of the Brazilian educators, who brings this discussion a lot. And with this question of the contestation that it brought, it reminded me of many cases that we have studied at an international level. This agenda of gender ideology and censorship, even some discussions in schools, has taken place at a transnational level and here in Brazil we also had this case quite a lot. Laws were passed by a movement called Escola Sem Partido, precisely, which sought to prevent discussions about gender, sexuality and even broader political discussions about Brazilian history from not being discussed in schools. And that reached the Supreme Court. We even took actions to prevent this type of censorship by the Supreme Court. And it was his decision. So all the subnational laws that were passed from this non-party school movement were suspended. And now we are on an agenda of home education, of regulation of this home education, in a sense very close to containment and control by the families over what is the content of this education. So it’s a very similar move. And then, within this perspective, you could also bring some aspects that you consider relevant on this topic of global citizenship in education for development, which also took place in other spaces in Europe and Latin America in South America.
LA SALETE COELHO: Which, in more practical cases, I’m not prepared to present, but in terms of our idea of perspectives and pointing out policies and directions, I think so. I think I can share a few things here. So on the one hand, of course, as you say, my view is very biased. It’s not my place of speech, it’s a lot and that’s very reduced. But at the European level, for example, I think that we are going through a difficult moment right now. It’s not like we all know what we have. On the one hand, there are extremisms here, especially on the side of the extreme right, which has put the issues of education for development and global citizenship into question. Only the very concept of global citizenship is called into question, because we are increasingly regressing in citizenship to make room for nationalist ideas. I’m from the time I remember the Berlin Wall falling. I didn’t imagine and in my life I would see walls appear again. across Europe. I had no idea, I am from the generation of the European Union. I remember going to the European Parliament when I was young, while in secondary school I couldn’t imagine it and I wanted to see countries leave the European Union. That is why we are in a phase in fact in Europe, of the setback in terms of this construction of a more collective citizenship, broader even of European citizenship, not only of global citizenship but of European citizenship. So there is a very strong line in that direction.
LA SALETE COELHO: We have governments, and I don’t need to name them. We have governments that are increasingly extremist in this sense, but the truth is that there are still spaces in Europe interested in building their opposite. And here I would like to point out that I can point out, for example, the Council of Europe that, through the North-South Center, for example, has updated and has greatly strengthened this area of education for global citizenship, even publishing resources, updating a publication that they had the guidelines, the practical guides for global education. To this end, the Council of Europe has invested heavily in this direction. The European Commission itself, with all its weaknesses and defects, maintains a line of funding for a program line called Year Development Education Where Is Raising? It finances European projects and also promotes the relationship with partners in the south of the world. The graph appears, in this case also in this line of education for development, for global citizenship. To build this feeling of belonging a little bit. We have this Global Education Network Europe, which is an inter-ministerial network which is a network that brings together ministries generally either of Foreign Affairs or of Education, which are those that generally work in these areas to coordinate policies in these areas at European level, to learn together with the world, as I said that we learned from Austria and now we can set our example in other countries as well. Therefore, I believe that there is a space for development here.
LA SALETE COELHO: I was just talking about Vanessa Andreotti and other investigators. The Indian Academic Network of Global Education and Learning was created very recently, which is not a European network, it is a worldwide international network and we can say that it also tries to bring together researchers around this area. It was created four, five years ago, I think until 2017, so I think there are paths that also contradict, so to speak, this extreme path and that they try to build on the other side. That’s why I’m positive, I’m a surrealist, but I also like to be optimistic. I am the faithful, I am a realist, an optimist and I believe that there are ways. There are still spaces, spaces of resistance, almost always using spaces in that sense. In Latin America we have also had better times in Latin America, which for a long time was a beacon of resistance, of alternatives, of experimentation. There were also some setbacks. From my point of view, once again, in the place of speech, it is also at a stage of some setback, because I think this is a bit global. We are not all affected and infected by these global issues that are out there, but I think there are also many clues and there are many clues for change. When they introduced me, they talked about the Ibero-American Initiative for Global Citizenship for Development Sustainable development. This is a program that is starting at the moment, which takes place within the scope of SEGIB, the Ibero-American General Secretariat and which currently brings together several countries such as Chile, Paraguay, the Dominican Republic, Uruguay.
LA SALETE COELHO: And I think it’s these four Latin American countries plus Portugal, Spain and Andorra, so Spanish and Portuguese speaking and that, together between these three European countries and these four Latin American countries, they are trying to create a project to boost national agendas a little bit in this area, both in formal and informal education. So I think there are good signs to come. ANGEL itself, the so-called academic network, is taking great interest. Last year, in July, we had a roundtable with only Brazilian researchers. We have, for example, Sylvia Morais, from the Federal University of Ceará, or Thiago Galvão, from the Universidade Brasília, Fernanda Rattes or Tania Ramalho, the Brazilian who lives in the United States, the State University of New York, in Ausubel, and who we meet exactly at an event to discuss: what is this? That question you asked me, what is this about education for development and global citizenship in Brazil? It makes sense at a conceptual level, but it is at a practical level. It makes sense? What is it called? It is interesting that we ended up with a conclusion that there is a concept in Brazil that best translates this area. It is education for planetary citizenship, very much in line with what you said earlier about Paulo Freire and even about Edgar Morin and the French philosopher. And which is the most used, for example, in Brazilian universities? This idea of planetary citizenship? This is because global can exactly lead to the error of neoliberal globalization and that is why they prefer not to use this concept and prefer development.
LA SALETE COELHO: It is also a concept that this idea of development is only in the North and that would be imported from the North. So they decided to use education for planetary citizenship and that’s why it’s a wealth, it’s not this exchange of ideas. Such a wealth grew within ANGEL, it took such a great interest. And this event that I just talked about – sorry, I’ll go back – was in Portuguese, but there were so many people who felt sorry within ANGEL for not being able to follow the event because it was in Portuguese and now they decided to do a new round table. It will take place on June 1st and will include Sylvia Moraes, from the same in the state of Ceará, but also Cruz Prado Rocha, from the University of António Valdivieso in Nicaragua, and also colleague Israelo Arthur Orrego Etxebarria, from the University of Colombia municipality of Colombia, precisely to discuss how these matters are being dealt with in Latin America. Therefore, more than looking at Latin America, it is important to have people from Latin America looking at themselves and communicating with the rest of the world. And this is also what we have tried to promote through the Church itself. And here are just a few examples.
RUI DA SILVA: Yes, thank you for this perspective. And isn’t it that we started from the concept, can we say from Portugal, for example, from other European countries, from networks and Latin America? And this focus, now at the end, in Brazil, is one of the keywords that he highlighted when we were now that he was now making his presentation, he talked about learning together and to end this conversation of ours, taking into account this learning in together with the advice that it gives because it is at the forefront of education, based on its involvement in education for development and Education, Global Partnership and education for planetary citizenship.
LA SALETE COELHO: We are very inclusive. I really like a phrase by Oscar Jara, who is also from Latin America, from Costa Rica, a great popular educator and heir of Paulo Freire, who tells us that he exactly puts on the table the question of being ideological or not. , whether education is ideological or not. And he tells us that when we are involved in education, we immediately have to make a choice. And I think that many times we, educators, do not have this choice in our heads. We are just complying with programs to comply with manuals and such issues, and many times we don’t have this definition right in our heads. What is this definition? He says we have two options. In education, whenever it is or opting for educational processes that allow us to adapt to the changes that are taking place in societies and, therefore, that preparation for the job market that is necessary at this moment. Or, promote educational processes that allow us to train people who have the capacity to dream and build this dream and this society they dreamed of. And in fact, I think this is the big question for all educators. What line do I find myself on? And because the first one will point to ways What does he call conformism, submission, tranquility? It is not about following the path that has already been trodden by others.
LA SALETE COELHO: It’s a passive path. And this second way about educational processes that allow dreaming and gaining skills to execute, putting this transformation into practice brings restlessness, brings curiosity, brings uncertainty, brings transgression. Oscar Jara even says. But, in fact, it makes us builders and builders. It doesn’t just make us passive assistants. And I think the advice I give to educators is to think about exactly why they are from 14 educators and think about the path they want, and what they want to train. It is not too much that they also allow themselves to be transformed by these educational processes, because, as I was saying just now, we all don’t know if I am. I would like Vanessa Andreotti’s checklist to say that I’m in the critical EDSG, now I don’t know. I know I at least want to be in that process. I want to be silent and that’s why I think it was this advice, as educators, we must reflect on. On the one hand, where do we want to be and then be attentive and attentive throughout the process to see if in fact, our practices are helping to do so, so that in fact we are moving more and more towards a more equitable, more supportive world, fairer, where all people are worth the same, which is not what we are going, unfortunately, seeing at this moment.
ANDRESSA PELLANDA: Thank you, Salete, very inspiring, and it reminded me of the book by bell hooks, Teaching to Transgress: Education as a Practice of Freedom, which dialogues with all these authors you mentioned. Inspiring. Thank you very much for your participation here. More than sure, we’d like to talk more. I’m sure whoever is listening to us too and we will leave it in the references. Also links to the seminar and the studies you mentioned so that our listeners can delve deeper and also enter this network of teaching to transgress.
LA SALETE COELHO: Thank you, thank you. I know, it was a pleasure to participate here. It’s not, more than I’m used to hearing with great pleasure. Thanks.
Want to help translate this show? Please contact info@freshedpodcast.com
Have any useful resources related to this show? Please send them to info@freshedpodcast.com