Andréia Martins
How to ensure the right to education in emergency contexts?
School suspensions due to police operations or conflicts between armed groups are violations of rights that are unfortunately common in Brazilian communities. In some locations, these violations of rights are extreme when added to historical social inequalities and current emergency contexts.
How to ensure the right to education for all people when school communities suffer from urban violence on a daily basis?
In this episode of Eduquê we talk to Andréia Martins, director of Redes da Maré and education activist at the Malala Fund in Brazil. Andréia presents research and actions carried out by Redes da Maré to face exclusion in education in the Conjunto de Favelas da Maré, in Rio de Janeiro.
The region comprises 16 favelas, where 139,000 people live, according to the Maré Population Census. It is the most populous community in the state capital, with more than 47 thousand households. The school community in the region suffers from constant school suspensions for various reasons, including conflict situations and the Covid-19 pandemic.
Interrupções de aula por operações policiais ou conflitos entre grupos armados são violações de direito infelizmente comuns nas periferias brasileiras. Nessas localidades, as violações de direito são extremas, somando-se a desigualdades sociais históricas e contextos urgentes atuais.
Como assegurar o direito à educação para todas as pessoas quando comunidades escolares sofrem com a violência urbana cotidianamente?
Neste episódio do Eduquê conversamos com Andréia Martins, diretora da Redes da Maré e ativista pela educação do Fundo Malala no Brasil. Andréia conta das pesquisas e das ações que a Redes da Maré executa para enfrentar a exclusão escolar no Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro.
O conjunto é formado por 16 favelas, onde vivem 139 mil pessoas, segundo o Censo Populacional da Maré. Trata-se da comunidade mais populosa da capital fluminense, com mais de 47 mil domicílios. A comunidade escolar da região sofre com a constante interrupção de aulas por diversos motivos, entre eles as situações de conflito e a crise da pandemia de Covid-19.
ANDRESSA PELLANDA: Andréia Martins, seja bem-vinda ao Eduquê.
ANDREIA MARTINS: Obrigada, Andressa, eu que agradeço a oportunidade de falar um pouquinho do contexto da favela. Uma região, uma favela importante, localizada no centro da cidade, no Rio de Janeiro, que tem as suas especificidades. Como você falou, a Maré tem o porte de cidade, é maior que 96% dos 5.550 municípios brasileiros. Tem escala de cidade. E os problemas só se intensificam. Apesar de saber que em outras áreas periféricas do país as pessoas vivem as mesmas situações, as violações de direitos… É o que a Maré vive atualmente. Então é uma honra estar aqui conversando com você, minha colega da rede de ativistas, e vamos lá. Boa conversa pra gente.
ANDRESSA PELLANDA: Que bom! Então a gente vai começar pelo que você faz, a linha de trabalho, que é sobre educação. Queria que você falasse um pouquinho sobre o que é essa especificidade do contexto das favelas da Maré, e como funciona ou não funciona…
ANDREIA MARTINS: Então, a Maré é constituída por 16 favelas, numa área de quatro quilômetros e meio, numa área central na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Cada uma dessas favelas tem o seu próprio histórico de constituição. Algumas foram resultado de política pública, habitacional, outras ocupações. Enfim, cada uma tem a sua história e começou a ir a partir da década de 1940. Ao longo dessa trajetória e de luta dos moradores que foram chegando e que foram construindo esse bairro… A Maré é um bairro. É bom que se diga que é um bairro, né? Desde 1992, a Maré foi, foi lutando. Os moradores foram lutando por direitos básicos de saúde, educação e a presença do estado. Hoje, na Maré, ela se dá principalmente através das escolas públicas. Nós temos 50 escolas públicas na Maré, 46 da rede municipal que atendem ao ensino fundamental e quatro no ensino médio. E isso aí. Das cerca de 20.000 matrículas da rede municipal de educação da Maré, que atende a Maré, um conjunto de escolas da rede municipal de educação, são cerca de 18.000 escolas. É quase, por exemplo, a rede municipal da cidade de Teresópolis, que é uma região aqui do Rio, na área metropolitana do Rio de Janeiro. Então é um número muito grande de alunos e essa conquista foi através de muita luta, também das associações de moradores e das instituições locais. E nos últimos anos, houve uma ampliação muito grande do número de escolas. O que ocorre é que a gente ainda tem uma precariedade muito grande do funcionamento dessas instituições, não só das escolas, como dos postos de saúde e de equipamentos de cultura. A Maré tem um equipamento público de cultura, tem cerca de sete ou oito unidades básicas de saúde.
ANDREIA MARTINS: Então é um número muito pequeno de instituições que atendem, além de equipamentos públicos que atendem a essa população tão numerosa. Para além disso, tem a questão da violência armada. A maré é dominada por diferentes grupos criminosos armados que disputam ali o território e, para além disso, também tem uma política de segurança pública ou de segurança pública que não respeita a vida, que não respeita não só dos moradores como dos próprios policiais, e que é muito truculenta, que gera muitas mortes e muitos impactos no cotidiano do funcionamento das instituições locais, sejam elas públicas ou não. Então, essa coisa da violência e das operações policiais e dos confrontos entre esses grupos criminosos armados pela disputa do território traz impacto em tudo, principalmente, na educação. A Rede da Maré, desde 2017, analisa os dados de incursões policiais ou dos confrontos armados. Quanto ao fenômeno da violência no bairro, a gente pode constatar que, por exemplo, em 2016, foram 20 dias com aulas em 2017, 35 em 2018, dez dias em 2019, 24 em 2020. Nós tivemos aí a suspensão das aulas presenciais, então até o dia oito, mas até o dia 13 de março… Quando foram suspensas as aulas, já havia tido oito dias sem aulas nas escolas. Em 2021, foram seis dias. Mas a maioria das escolas só voltou a funcionar mesmo efetivamente no final de outubro. Ao longo do ano foram algumas tentativas e isso mostra a defasagem que esse aluno de escola pública da Maré vai ter no final da sua formação, considerando que o ano letivo tem 200 dias. No final de 14 anos a gente fez uma continha no final de 14 anos de escolarização, desde a pré-escola até o ensino médio, os estudantes da Maré, se essa média se mantiver, vamos ter perdido cerca de 490 dias letivos, o que quer dizer: mais de dois anos de escolarização. Aí é importante falar que não existe uma política clara de reposição desse tempo, dessas aulas. E uma outra coisa também é que, um dia após uma operação policial, um confronto entre os grupos, não quer dizer que a escola voltou ao normal e está tudo certo. Obviamente que essas operações e essa situação de violência e tiroteios causam um impacto psicológico tanto nos alunos como nos professores, como nas famílias também. Nós já tivemos casos de alunos que morreram na saída da escola. Então você mandaria seu filho para a escola no momento que pode ter um conflito? É um risco. Então, obviamente que toda essa situação gera insegurança, medo, ansiedade. Obviamente que isso vai impactar na aprendizagem, nas práticas pedagógicas. Então essa é uma situação bastante grave, que nos preocupa muito. De que forma que a gente tenta contribuir para que essas operações policiais sejam mais planejadas e pensadas, que não tenha tanta interferência objetiva que não coloca em risco o objetivo. Os quase 20.000 alunos que circulam pela Maré ao longo do dia, principalmente nos horários de entrada e saída, por volta de 08h e no meio da tarde, mas que também com a redução… A gente passa a ter um ambiente mais propício para uma aprendizagem mais consistente, que coloque os alunos da Maré em condições melhores de se conseguirem, através do processo de escolarização, melhores condições de vida, não só para ele como para as suas famílias. Então é um pouco esse cenário que a gente tem hoje na Maré.
ANDRESSA PELLANDA: É bastante complexo e imagino que com a Covid-19 isso se intensificou de certa forma. A gente tem falado aqui em outros lugares que a gente tem vivido uma crise dentro de uma crise. Você coordenou duas pesquisas recentes sobre esse impacto da Covid na Educação, na Maré e enfim. E eu queria pedir para você contar um pouquinho sobre os resultados dessa pesquisa, quais foram esses impactos e como que a pandemia chega na Maré. E já que o nosso podcast ele também é difundido pelo Brasil inteiro e pelo mundo, um podcast é em português, mas a gente traz convidados do mundo inteiro. Poderia falar um pouquinho sobre o que é o trabalho da Rede da Maré e como que ele funciona? Eu sei que ele não é só sobre educação, então é contar um pouquinho para que as pessoas possam conhecer também essa organização, que é tão importante aí para esse trabalho, a Rede da Maré, uma instituição de atuação local.
ANDREIA MARTINS: Ela surge a partir de uma demanda de moradores que já haviam, por exemplo, ingressado na universidade e que se perguntavam porque alguns conseguiam entrar na universidade, com a ampliação do tempo de escolarização, e outros não. E aí, a partir daí, foram criados pré-vestibulares lá. Ainda no final da década de 1990, 1998, teve a primeira turma. A partir daí, o trabalho da rede foi se expandindo. O pré-vestibular teve uma aprovação muito, muito significativa logo no início, mas ele foi mostrando que precisava se investir mais. Então os alunos chegavam para o pré-vestibular com uma defasagem muito grande na exigência de conteúdo no ensino médio. E aí a gente começou a fazer um preparatório para que eles pudessem entrar, alunos da Maré que pudessem competir e entrar em escola de ensino médio de qualidade, de referência, no Rio de Janeiro. E aí a gente viu que os meninos chegavam do sexto ano também com dificuldades. Então, a gente foi desenvolvendo projetos nessa área de educação, de cursos preparatórios, de atendimento direto para os alunos, na perspectiva de prepará-los para esses concursos das escolas de referência, escolas de preferência, mas que eles pudessem mesmo não entrar só nas pré-escolas, que eles pudessem ampliar o seu tempo de escolarização, seguindo a sua trajetória escolar com mais tranquilidade, com conteúdo mais bem consolidado. E aí a coisa começou a acontecer e aí a gente começou a perceber que outras áreas também são estruturantes para a vida humana. A gente precisava fazer alguma coisa, mas se mobilizar, porque aí vieram os outros três eixos de projetos em outras áreas de atuação.
ANDREIA MARTINS: E a gente começou a desenvolver também projetos na área da arte, cultura, de comunicação. Nós demos há muito tempo um jornal impresso com 50 milhões de exemplares, que a gente distribui de porta em porta a cada mês e outras ações foram acontecendo… E a gente foi se constituindo no que nós somos hoje. Hoje, nós trabalhamos em algumas áreas que nós chamamos de eixos norteadores: educação, arte, cultura, memória, identidade, segurança pública e acesso à justiça. E o eixo de direitos: direito à saúde, que surgiu, além da Comunicação, o eixo de desenvolvimento urbano e socioambiental. Então são essas áreas em que a gente trabalha. O eixo de saúde surge principalmente nesse contexto da Covid. Nós não tínhamos uma situação direta na área da saúde, mas logo que começou a pandemia. Logo nos primeiros 15 dias, a rede se organizou para desenvolver e lançou uma campanha. Estamos na área de nova coronavírus e a ideia inicial era que nós pudéssemos distribuir cestas básicas para 6.000 famílias que foram identificadas a partir de dados do Censo. Uma área que você citou, e foi um censo que nós fizemos em 2013, e também de indicações de projetos que nós atendemos… A partir deste trabalho, que era inicialmente de cesta básica, porque logo no início a gente percebeu que o Estado estava ausente e que depois o mundo foi percebendo qual foi a atuação do governo, principalmente do governo federal, no combate a Covid.
ANDREIA MARTINS: E nós fomos percebendo também que as pessoas começaram a perder seus empregos e começaram a ficar numa situação de insegurança alimentar, de fome mesmo. A maioria dos trabalhadores da Maré trabalham no mercado informal e eles não têm os direitos trabalhistas, e obviamente perderam as suas rendas e muitos deles nessa área de serviços, restaurantes, salão de cabeleireiro, lojas. Então as pessoas estavam nessa situação de fome e a gente lançou a campanha, e a campanha foi se ampliando, e ela acabou atuando em várias frentes, como distribuição de quentinhas para os moradores de rua e a própria distribuição de cestas básicas e de kits de higiene e limpeza. Geração de renda porque nós tivemos projetos com costureiras na Maré, construindo, costurando mais para a própria distribuição das cestas básicas. Gerou uma necessidade de contratação de motoristas e entregadores. E nós vamos entregar, vamos. Chegamos a entregar duas 1.500 cestas por dia. Então era uma operação que exigia cerca de 60 pessoas trabalhando. E aí nós também percebemos que havia uma dificuldade muito grande das famílias em manterem as crianças estudando através das plataformas ou do ensino remoto. Na Maré, você tem cerca de 34% da população com acesso à internet e internet em casa. Então, o acesso à internet e a posse de equipamentos como celular, tablets para manter esse processo de acompanhamento das atividades que estavam sendo oferecidas pelas escolas ou não, nós não tivemos uma política muito rápida. Nós não tivemos nem a secretaria municipal nem estadual com uma ação muito imediata para que esses alunos não perdessem o vínculo com as escolas.
ANDREIA MARTINS: Eu acho que essa deveria ter sido a primeira preocupação de manutenção do vínculo e aí nós percebemos isso… Como é que está sendo feito esse acompanhamento? Enfim. E aí, nós pensamos, logo em maio desse ano, de fazer uma pesquisa para entender um pouco o contexto das meninas. Então, nós fizemos essa pesquisa. No âmbito da parceria com o Fundo Malala, que é a educação de meninas, e Covid-19, no Conjunto de Favelas da Maré. Foram entrevistas de porta a porta. Nós ouvimos 1.009 meninas, a maioria 75 entre 6 e 17 anos, com 28 perguntas que iam desde a identificação até às condições de acesso à internet, de saúde e empregabilidade. E aí nós constatamos que, de fato, as meninas não têm, 34% delas, não tinham acesso à internet, o que acho muito como os dados do Censo, que era 36% e alguma coisa. Um em cada quatro não tinha computador e não tinha celular. 25% também disseram que não tinham celular. Algumas tinham um celular, cerca de 15%, mas não tinham internet. E o número grande que nós tínhamos de meninas ou mulheres com o celular e da internet, que era cerca de 60%, não significava que o acesso era pleno e que elas podiam de fato acessar integralmente tudo o que estava sendo proposto pela escola. O que nós percebemos é que na maioria tem uma questão, e não é exclusividade da maré…
ANDREIA MARTINS: É a falta de investimento em serviços de internet. Não tem muito investimento, onde a gente tem essa dificuldade e além do serviço ruim, quando oferecido, sinal péssimo. Enfim, tem a coisa dos pacotes limitados de dados, então muitas famílias têm os pacotes, então a gente ouvia muito dos professores. Assim, chegando no meio do mês, já não dá mais para ficar mandando vídeo porque eles não conseguem acessar e esperava ser renovado. É a coisa de só ter um celular para todos os filhos, né? A família que tinha mais de uma criança, então, e muitas vezes o celular era do adulto que passava o dia todo trabalhando. Então, nós ouvimos também das famílias que o acesso era mais a parte da noite e também porque professores indicavam isso, que às vezes eles tinham que ficar atendendo até 22h, que era quando a família tinha acesso. Então foi um pouco isso que nós percebemos nessa pesquisa, e aí nós tivemos sempre essa preocupação de registrar o fenômeno no momento em que ele estava acontecendo. Nós estávamos ali no cotidiano das famílias, por conta da campanha. Mas a gente sempre entende que é importante você ter esses dados e registrar o que a produção de conhecimento sobre essas áreas é que a gente não tem muito isso na academia, né? Então, essa é uma das frentes, inclusive da Rede da Maré, né? Dentro da nossa metodologia, a gente espera produzir conhecimento sobre tudo, sobre o território, para que a gente possa qualificar não só a nossa ação, mas que também a gente possa chegar ali, com gestores públicos, e falar: olha, essa é a nossa realidade.
ANDREIA MARTINS: Essa sua política é muito bacana, mas uma política que deixa alguém para trás não é política pública eficiente, né? E, nesse caso, na pandemia, a gente percebeu exatamente isso. O lançamento pelas redes de ensino de aplicativos por uma população que não tinha acesso à internet. Então, essa foi essa a solução. Acho que da maioria das redes, aqui no Rio, a gente começou a se organizar já muito para o final do primeiro ano da pandemia na distribuição de material didático, mas mesmo assim isso não atingia todo mundo. Então, essa produção de conhecimento para a gente é fundamental. E aí nós pensamos em desenvolver uma outra pesquisa. E aí a gente começou a negociar com o Instituto Unibanco, que foi o nosso parceiro nessa segunda pesquisa, que é a pesquisa sobre o acesso à educação nas 16 favelas da Maré e, em parte, nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, já numa perspectiva de final de pandemia, início de ano letivo como o mundo inteiro… Em 2020, como a gente vai começar o ano letivo? Sem o presencial. Então vamos fazer uma pesquisa pensando no impacto disso, no impacto desses anos, desses meses todos de pandemia, que nós ainda imaginávamos que seriam meses na educação, principalmente nos anos finais e no ensino médio, que são etapas importantes. Mas a gente tem esse funil absurdo. Na Maré, você ter 56 turmas, por exemplo, hoje do primeiro ano do ensino fundamental e 14 turmas de nono ano.
ANDREIA MARTINS: Então, só para se ter uma ideia do quanto que esse funil não é um fenômeno nacional, mas na Maré ele é bem, bastante perverso, principalmente porque nós não temos escolas públicas de segundo segmento. Nós só temos cinco escolas do segundo segmento. Bom, mas enfim, voltando para pesquisa, nós fizemos. Começamos em maio. A metodologia foi fazer 89 entrevistas estruturadas com diretores, coordenadores pedagógicos, professores, pais e alunos. A partir dessas entrevistas, nós elaboramos questionários diferentes com um desses atores e aí nós criamos, através dos questionários, 630 alunos, sempre um professor e 101 profissionais de educação, 16 pais e 14 estudantes. E aí nós já terminamos a coleta mesmo nós. Terminamos em outubro e aí, em outubro, já estava naquele período das aulas estarem sendo retomadas. Os resultados foram as que mais alarmantes do que a gente esperava. 74% dos alunos disseram que não aprenderam nada ou quase nada. 20% não conseguiram se organizar e 35% indicaram que tiveram muita dificuldade de adaptação e, se não remota, então mesmo com acesso, ainda tinha muita dificuldade de esse novo formato, 40% disseram que tiveram problema de acesso à internet ou posse de equipamentos. E um impacto muito grande na saúde é mais duradouro, inclusive em saúde, de que é mais complicado. O impacto na saúde foi no aprendizado também, porque as coisas estão interligadas. Mas foi muito alarmante a gente constatar que 41% dos estudantes apresentaram problemas emocionais que dificultaram o processo educativo. Isso num universo de 630 estudantes.
ANDREIA MARTINS: Foram 257. É muita coisa. 72% dos profissionais de educação disseram que agravou muito a situação da saúde mental, mental e emocional. Crises de pânico, ansiedade, insônia. Um sentimento de que o que eu estou fazendo aqui, dando aula nessa plataforma, você não vai jantar nada. Eles não estão aprendendo. Os pais também relataram 69% dos pais disseram que teve um agravamento muito grande também na saúde mental e emocional. Eu, um outro dado também, que aí é mais ligado à prática profissional: 70% dos profissionais de educação disseram que a motivação para trabalhar diminuiu e diminuiu muito. Então são dados que trazem para a gente uma urgência de políticas públicas articulada com a sociedade civil, com as famílias, para que a gente possa reverter ou mitigar um pouco isso. Um dado importante também foi o apoio familiar. A gente tem essa ideia de que famílias de classe popular e das periferias não valorizam a educação, que não acompanham o que os filhos estão fazendo. E o que a gente ouviu que 59% dos pais têm muito a dizer: já ajudaram os filhos, e ter essa parceria com a família foi fundamental nesse período. Deveria ser incentivado e fomentado para que a gente conseguisse a guarda depois disso tudo e tentar de forma coletiva, mitigar isso aí, contando muito com participação das famílias nesse processo todo, fez com que as escolas e os professores também entendessem um pouco a realidade das famílias. Considerando que mais de 90% dos professores trabalham, não são moradores da Maré e não conhecem, portanto, bem esse conceito.
ANDRESSA PELLANDA: É muito interessante o que você traz, não só para a gente conhecer esse contexto da Maré, mas também porque a gente no podcast, aqui, a gente tem a proposta de trazer tanto acadêmicos quanto militantes, ativistas da área da educação. E não à toa, por isso, que o Rui, que é da Universidade do Porto, de Portugal, apresenta o podcast junto comigo. A gente faz essa dobradinha, de acadêmicos e ativistas, militantes… E você falar como a pesquisa é crucial para a ação de vocês e também pra incidência política, para formular políticas públicas que sejam de fato adequadas para o contexto. É muito relevante, então essas pesquisas já mostram muito sobre qual é a situação de emergência, na emergência. Parece que a gente nunca sai desse contexto de emergência. Aí, especialmente na Maré, uma das questões que você traz muito nas duas pesquisas é que, uma questão crucial em termos de política pública, e também de ação das organizações da sociedade civil, é a busca ativa escolar. E a gente queria entender como que essa busca ativa acontece na Maré, qual é a estratégia que as escolas, a educação traz, e que o resultado seja também não só de acesso à educação, mas de permanência nessa escola. Então, se você puder conversar um pouquinho com a gente sobre isso, vai ser muito rico também, porque tem outros países que nos ouvem e que passam pelas mesmas situações. E esse é um pouco o trabalho que a gente faz na Rede Lusófona pelo Direito à Educação, de troca de conhecimento Sul-Sul, de cooperação para que a gente possa se inspirar nas estratégias dos demais países.
ANDREIA MARTINS: A busca ativa é uma estratégia das redes para tentar contribuir para a garantia dos direitos, o acesso e a permanência desses alunos na escola. Desde 2007, nós começamos com um projeto chamado Nenhum a Menos, que era justamente um projeto que buscava entender que havia essas crianças ainda fora da pré-escola na Maré. E como poderíamos contribuir para resolver essa situação, e entender também um pouco esse contexto? A gente desenvolveu essa metodologia, que é não só de acompanhamento desses alunos que estão em infrequentes, como aqueles que estão de fato fora da escola. Os dados mostram para a gente que a maioria desses alunos que hoje estão fora da escola eles já passaram pela escola. De alguma forma, eles foram alunos dessas escolas e por algum motivo eles não conseguiram acompanhar. A questão hoje da evasão escolar, ou exclusão escolar que é o termo que a gente está começando a usar e está cada vez fazendo mais sentido a partir do trabalho do campo… É que essas crianças já passaram pela escola, então não são só questões pedagógicas, elas passam também por outras áreas. Então, o projeto hoje aqui tem uma metodologia que ele busca não só a identificação das crianças e dos adolescentes que estão infrequentes. E a gente faz isso a partir de um convênio que a gente tem com a Secretaria Municipal de Educação, que autoriza que as escolas nos forneçam as listas desses alunos com informações para visita domiciliar.
ANDREIA MARTINS: Então, a situação da criança, o endereço do responsável, telefone… E aí nós estamos com um grupo de articuladores locais, a maioria de moradores da Maré que conhece o território, que elas vão às residências e tentam entender por que essa criança está infrequente. Ou muitas vezes a criança já até perdeu a vaga na escola. Então, esse é um dos caminhos, um outro caminho para se chegar às crianças que estão fora da escola… E aí nem sempre a gente consegue… A gente chega até essas crianças, não pelas listas das escolas, mas por mutirões, porque algumas dessas crianças que não estão na escola nunca foram à escola, não estão na escola há muito tempo. Elas não são nem identificadas pelas escolas. Então, nós fazemos mutirões, que é escolher uma área numa favela; a equipe fica ali o dia inteiro fazendo conversas com os moradores e aí tentando entender as situações das crianças ali e, através de indicações, a gente entrevista as famílias. E aí tentamos entender por que a criança está fora da escola. Quando é uma questão só de vaga, por falta de informação… Porque algumas famílias entendem também que o estudante não fez matrícula no início do ano, não pode entrar na escola — e a legislação prevê que não, a criança pode entrar a qualquer momento no ano letivo. Então, quando é uma questão para eles, a gente faz a articulação com a escola e tenta conseguir a vaga.
ANDREIA MARTINS: E a criança segue na escola, mas às vezes são outras questões de documentação, de questões de saúde. Crianças estão doentes, não conseguem atendimento médico, então não conseguem ir para a escola. A questão é que a assistência pode contribuir. Então o projeto tem uma perspectiva não só de acompanhar a criança em si, a família no acesso e na permanência na escola, mas também criar uma rede de proteção que consiga garantir que essa criança continue na escola e para além disso. O que a gente percebe também é que a maioria aqui não é uma surpresa. A maioria das responsáveis por essas crianças são mulheres, na sua maioria pretas, que têm baixa escolarização ou que por algum motivo, estão vivendo alguma situação de violência. Não só a violência física, mas, enfim, algum tipo de violência que interfere na dinâmica da família e que acaba também contribuindo para que a criança não tenha o processo de escolarização regular adequada. E aí também a gente tenta fazer alguma coisa e alguns encaminhamentos que possam também fortalecer essa mulher. Então, só para ilustrar, nós temos uma mãe que com duas crianças, duas meninas que estavam com dificuldade de acompanhar a escola e muito na conversa e no vínculo com a moradora… Essa mulher despertou interesse em estudar o assunto. Então encaminhamos para um projeto de alfabetização da própria rede.
ANDREIA MARTINS: Ela também foi fazer um curso de gastronomia, porque muitas das vezes também a violência, a violência, os diferentes tipos de violência que a mulher pode sofrer em casa passa também por uma dependência econômica do companheiro, de dependência que coloca, que garante o sustento da família, comida para os filhos e então ela acaba não saindo dessa situação porque não teria condições de se manter. Então, esse fortalecimento também das famílias e principalmente das mulheres, porque são a maioria, são as responsáveis pelo processo de escolarização dos filhos… Isso também faz parte do projeto. E essa coisa da política intersetorial, que é uma fragilidade das nossas vidas, nossas prefeituras e dos nossos governos municipais. Você, às vezes, você tem uma mesma criança atendida por diferentes programas de governo, por diferentes secretarias e que não há uma articulação. E aí, com isso, você fragmenta demais o indivíduo e você não otimiza os recursos das políticas públicas. Enfim, então a gente tenta também fazer esse tipo de suporte à população. A gente entende que a busca ativa, esse projeto, inclusive, a gente já tem… Como eu disse há muito tempo, na parceria com o Fundo Malala, ele começou a 1 de abril, que é justamente no ano da pandemia, 15 dias depois da pandemia. E aí a gente entende que hoje ele é muito mais ainda necessário para dar conta dessas crianças e adolescentes que ficaram fora da escola durante a pandemia.
ANDRESSA PELLANDA: Muito obrigada pela sua participação, Andreia. Você pode acessar as pesquisas da Redes da Maré citadas nesse epidósio no site redesdamare.org.br .
ANDRESSA PELLANDA: Andréia Martins, welcome to Eduquê.
ANDREIA MARTINS: Thank you, Andressa, I appreciate the opportunity to talk a little bit about the context of the favela. A region, an important favela, located in the center of the city, of Rio de Janeiro, that has its specificities. As you said, Maré has the size of a city, it is larger than 96% of the 5,550 Brazilian municipalities. It has a city scale. And the problems only intensify. Despite knowing that in other peripheral areas of the country people experience the same situations, violations of rights… This is what Maré is currently experiencing. So it’s an honor to be here talking to you, my fellow activist, and let’s go — good conversation for us.
ANDRESSA PELLANDA: Good! So we’ll start with what you do, the line of work, which is about education. I would like you to talk a little bit about what this specificity of the context of the favelas of Maré is, and how it works or doesn’t work…
ANDREIA MARTINS: So, Maré is made up of 16 favelas, in an area of four and a half kilometers, in a central area in the north of the city of Rio de Janeiro. Each of these favelas has its own history of constitution. Some were the result of public policy, housing, and other occupations. Anyway, each one has its history and it started to go from the 1940s onwards. Throughout this trajectory and the struggle of the residents who arrived and who built this neighborhood… Maré is a neighborhood. It’s good to say it’s a neighborhood, right? Since 1992, Maré has been fighting. Residents were fighting for basic rights to health, education, and the presence of the state. Today, in Maré, it takes place mainly through public schools. We have 50 public schools in Maré, 46 in the municipal system that offers elementary school, and four of them in high school. That’s it. Of the approximately 20,000 enrollments in the Maré municipal education system, which serves Maré, a set of schools in the municipal education system, there are about 18,000 schools. It is almost, for example, the municipal system of the city of Teresópolis, which is a region here in Rio, in the metropolitan area of Rio de Janeiro. So it’s a very large number of students and this achievement was through a lot of struggle, also from residents’ associations and local institutions. And in recent years, there has been a very large increase in the number of schools. What happens is that we still have a very precarious functioning of these institutions, not only in schools but also in health centers and cultural equipment. Maré has public cultural facilities, it has about seven or eight basic health units.
ANDREIA MARTINS: So there is a very small number of institutions that serve, in addition to public facilities that serve this very large population. In addition, there is the issue of armed violence. The tide is dominated by different armed criminal groups that dispute the territory there and, in addition, it also has a public security policy that does not respect life, that does not respect not only the residents but the police themselves, and which is very truculent, which generates many deaths and many impacts on the daily operation of local institutions, whether public or not. So, this thing about violence and police operations and confrontations between these armed criminal groups over territorial disputes has an impact on everything, especially education. Since 2017, Rede da Maré has been analyzing data from police incursions or armed clashes. As for the phenomenon of violence in the neighborhood, we can see that, for example, in 2016, there were 20 days with classes in 2017, 35 in 2018, ten days in 2019, and 24 in 2020. We had the suspension of face-to-face classes, so until the eighth, but until the 13th of March… When classes were suspended, there had already been eight days without classes in school. In 2021, it was six days. But most schools didn’t start working again until the end of October. There were some attempts throughout the year and this shows the lag that this public school student in Maré will have at the end of his training, considering that the school year has 200 days. At the end of 14 years, we calculated at the end of 14 years of schooling, from preschool to high school, students from Maré, if this average is maintained, we will have lost about 490 school days, which that is to say: more than two years of schooling. It is important to say that there is no clear policy for replacing this time, these classes. And another thing is also that, the day after a police operation, a confrontation between the groups, it doesn’t mean that the school is back to normal and everything is fine. These operations and this situation of violence and shootings have a psychological impact on both students and teachers, as well as families. We have already had cases of students who died on the way out of school. So would you send your child to school at a time when there might be a conflict? It’s a risk. So, obviously, this whole situation generates insecurity, fear, and anxiety. Obviously, this will impact learning and pedagogical practices. So this is a very serious situation, which concerns us a lot. How do we try to contribute so that these police operations are more planned and thought out so that they do not have so much objective interference that the objective is not jeopardized? The almost 20,000 students circulate around Maré throughout the day, mainly at the time of arrival and departure, around 8:00 am and in the middle of the afternoon, but that also with the reduction… We start to have a more favorable environment for more consistent learning, which places Maré students in better conditions to achieve, through the schooling process, better living conditions, not only for them but for their families. So it’s a bit like this scenario that we have today in Maré.
ANDRESSA PELLANDA: It is quite complex and I imagine that with Covid-19 this has intensified in a way. We have been saying here in other places that we have been experiencing a crisis within a crisis. You coordinated two recent surveys on the impact of Covid on Education, on Maré, and finally. And I would like to ask you to tell us a little bit about the results of this research, what those impacts were and how the pandemic arrived in Maré. And since our podcast is also broadcast all over Brazil and the world, a podcast is in Portuguese, but we bring guests from all over the world. Could you talk a little bit about what Rede da Maré’s work is and how it works? I know it’s not just about education, so it’s telling a little bit so that people can also get to know this organization, which is so important for this work, Rede da Maré, an institution that works locally.
ANDREIA MARTINS: It arises from demand from residents who had already, for example, entered the university and who wondered why some were able to enter the university, with the increase in schooling time, and others were not. And then, from there, pre-university exams were created there. Still, in the late 1990s, 1998, it had its first class. From there, Rede’s work expanded. The pre-university entrance exam had a very, very significant approval right from the start, but it was showing that he needed to invest more. So the students arrived for the pre-university entrance exam with a very large lag in the requirement of content in high school. And then we started to prepare for them to enter, students from Maré who could compete and enter a quality high school, of reference, in Rio de Janeiro. And then we saw that the boys arrived from the sixth grade also with difficulties. So, we developed projects in this area of education, preparatory courses, and direct service to students, to prepare them for these competitions from reference schools, and schools of choice, but that they could even not enter only the preschools, so that they could extend their schooling time, following their school trajectory with more tranquility, with better-consolidated content. And then things started to happen and then we started to realize that other areas are also structuring for human life. We needed to do something but mobilize. And then came the other three axes of projects in other areas of activity.
ANDREIA MARTINS: We also started to develop projects in the area of art, culture, and communication. A long time ago we gave a printed newspaper with 50 million copies, which we distribute from door to door every month and other actions were taking place… And we gradually became what we are today. Today, we work in some areas that we call guiding axes: education, art, culture, memory, identity, public security, and access to justice. And the axis of rights: the right to healthcare, which emerged, in addition to communication, as the axis of urban and socio-environmental development. So these are the areas in which we work. The health axis arises mainly in this context of Covid. We didn’t have a direct situation in the health area, but as soon as the pandemic started. In the first 15 days, the Rede organized itself to develop and launched a campaign. We are in the new coronavirus area and the initial idea was that we could distribute basic food staples to 6,000 families that were identified from Census data. An area that you mentioned, and it was a census that we did in 2013, and also of indications of projects that we attended… From this work, which was initially of basic food staples, because right at the beginning we realized that the State was absent and that later the world realized what was the role of the government, especially the federal government, in the fight against Covid.
ANDREIA MARTINS: And we were also noticing that people began to lose their jobs and began to be in a situation of food insecurity, even hunger. Most workers in Maré work in the informal market and do not have labor rights, and obviously lost their income and many of them in this area of services, restaurants, hairdressing salons, and shops. So people were in this situation of hunger and we launched the campaign, and the campaign was expanding, and it ended up working on several fronts, such as the distribution of snacks to the homeless and the distribution of basic food staples and kits of hygiene and cleaning. Income generation because we had projects with seamstresses in Maré, building, and sewing more for the distribution of basic food staples. It generated a need to hire drivers and delivery people. And we’ll deliver, let’s go. We even delivered two 1,500 basic food staples a day. So it was an operation that required about 60 people. And then we also realized that there was a great difficulty for families to keep their children studying through platforms or remote learning. In Maré, you have about 34% of the population with internet access and internet at home. So, internet access and equipment such as cell phones, and tablets, etc to maintain this process of monitoring the activities that were being offered by schools… We did not have a very fast policy. We did not have either the municipal or state councils with immediate action so that these students would not lose their bond with the schools.
ANDREIA MARTINS: I think this should have been the first concern to maintain the bond and then we realized that… How is this monitoring being done? Anyway. And then, we thought, in May of this year, of surveying to understand a little bit about the context of girls. So we did this research. Within the scope of the partnership with the Malala Fund, which is the education of girls, and Covid-19, in the Conjunto de Favelas da Maré. There were door-to-door interviews. We interviewed 1,009 girls, most of them 75 between 6 and 17 years old, with 28 questions that ranged from identification to conditions of internet access, health and employability. And then we found that, in fact, the girls don’t have it, 34% of them didn’t have internet access, which I think is very similar to the Census data, which was 36% and something. One in four had no computer and no cell phone. 25% also said they didn’t have a cell phone. Some had a cell phone, around 15%, but no internet. And the large number we had of girls or women with cell phones and the internet, which was around 60%, did not mean that access was full and that they could, in fact, fully access everything that was being put forward by the school. What we realize is that most of them have a question, and it’s not exclusive to them…
ANDREIA MARTINS: It is the lack of investment in internet services. There is not much investment, where we have this difficulty and in addition to the bad service, when offered, a bad signal. Anyway, there is the thing about limited data packages, so many families have the packages, so we heard a lot from the teachers. Thus, arriving in the middle of the month, it is no longer possible to send videos because they cannot access them and it was waiting to be renewed. It’s the thing of only having one cell phone for all the children, right? The family had more than one child, then, and often the cell phone belonged to the adult who spent all day working. So, we also heard from the families that access was more at night and also because teachers indicated this, that sometimes they had to be seen until 10 pm, which was when the family had access. So that’s a bit of what we noticed in this research, and then we were always concerned about recording the phenomenon at the moment it was happening. We were there in the daily lives of the families, because of the campaign. But we always understand that it is important for you to have this data and record what the production of knowledge about these areas is that we don’t have that much in academia, right? So, this is one of the fronts, including Rede da Maré, right? Within our methodology, we hope to produce knowledge about everything, about the territory, so that we can qualify not only our action, but that we can also get there, with public decision-makers, and say: look, this is our reality.
ANDREIA MARTINS: Your policy is very nice, but a policy that leaves someone behind is not an efficient public policy, right? And, in this case, in the pandemic, we realized exactly that. The launch of applications by school systems by a population that did not have access to the internet. So, that was the solution. I think that in most school systems, here in Rio, we started to organize themselves a lot towards the end of the first year of the pandemic in the distribution of teaching material, but even so, this did not reach everyone. So, this production of knowledge for us is fundamental. And then we thought of developing another research. And then we started to negotiate with Unibanco Institute, which was our partner in this second research, which is the research on access to education in the 16 favelas of Maré and, in part, in the final years of elementary and high school, already in a perspective of the end of the pandemic, beginning of the school year like the whole world… In 2020, how are we going to start the school year? Without the face-to-face. So let’s do research thinking about the impact of this, the impact of these years, of all these months of the pandemic, which we still imagined would be months in education, especially in the final years and in high school, which are important stages. But we have this absurd funnel. At Maré, you have 56 classes, for example, today in the first year of elementary school and 14 classes in the ninth year.
ANDREIA MARTINS: So, just to give you an idea of how much this funnel is not a national phenomenon, but in Maré it is very, very perverse, mainly because we do not have second-class public schools. We only have five schools in the second segment. Well, anyway, going back to research, we did. We started in May. The methodology was to carry out 89 structured interviews with directors, pedagogical coordinators, teachers, parents and students. From these interviews, we created different questionnaires with one of these actors and then we created, through the questionnaires, 630 students, always a teacher and 101 education professionals, 16 parents and 14 students. And then we finished the collection ourselves. We finished in October and then, in October, it was already at that time when classes were being resumed. The results were more alarming than we expected. 74% of students said they learned nothing or almost nothing. 20% were unable to organize themselves and 35% indicated that they had a lot of difficulties adapting and, if not remotely, then even with access, they still had a lot of difficulty with this new format, 40% said they had problems with internet access or possession of the equipment. And a very big impact on health is more lasting, including health, which is more complicated. The impact on health was also on learning because things are interconnected. But it was very alarming to see that 41% of the students had emotional problems that made the educational process difficult. This is in a universe of 630 students.
ANDREIA MARTINS: There were 257. That’s a lot. 72% of education professionals said it greatly worsened their mental, mental and emotional health situation. Panic attacks, anxiety, insomnia. A feeling that what I’m doing here, teaching on this platform, you’re not going to have dinner. They are not learning. Parents also reported 69% of parents said they had a very big worsening in mental and emotional health as well. I also have another piece of data, which is more linked to professional practice there: 70% of education professionals said that their motivation to work has decreased and has decreased a lot. So these are data that bring us an urgent need for public policies articulated with civil society, and with families, so that we can reverse or mitigate this a little. An important data was also family support. We have this idea that low-income families in the outskirts do not value education, and do not keep up with what their children are doing. And what we heard that 59% of parents have a lot to say: they have already helped their children, and having this partnership with the family was fundamental during this period. It should be encouraged and encouraged so that we could get custody, after all, and try collectively, to mitigate this, relying a lot on the participation of families in this whole process, it made the schools and teachers also understand a little the reality of the families. Considering that more than 90% of the teachers work, they are not residents of Maré and therefore do not know this concept well.
ANDRESSA PELLANDA: What you bring is very interesting, not only for us to know this context of Maré, but also because in the podcast, here, we have the proposal to bring both academics and activists, activists in the area of education. It is not for nothing, therefore, that Rui, who is from the University of Porto, in Portugal, presents the podcast with me. We do this two-fold, of academics and activists, activists… And you talk about how research is crucial for your actions and also for political incidence, to formulate public policies that are appropriate for the context. It is very relevant, so these researches already show a lot about what the emergency situation is, in the emergency. It seems that we never get out of this emergency context. There, especially in Maré, one of the issues that you bring up a lot in the two surveys is that a crucial issue in terms of public policy, and also the action of civil society organizations, is the active school search. And we wanted to understand how this active school search takes place in Maré, what is the strategy that schools and education brings and that the result is also not only access to education but permanence in that school. So, if you can talk to us a little bit about this, it will be very rich too, because people from other countries listen to us and that go through the same situations. And this is part of the work that we do in the Lusophone Network for the Right to Education, of South-South exchange of knowledge, of cooperation so that we can be inspired by the strategies of other countries.
ANDREIA MARTINS: The active school search is a strategy of the school systems to try to contribute to guaranteeing the rights, access and permanence of these students in school. In 2007, we started with a project called None a Menos, which was precisely a project that sought to understand that there were these children still out of preschool in Maré. And how could we contribute to resolving this situation, and also understand this context a little? We developed this methodology, which is not only for monitoring these students who are in infrequent students but also for those who are actually out of school. The data show us that most of these students who are out of school today have already been through school. Somehow they were students at these schools and for some reason, they couldn’t keep up. The issue today of school dropout, or exclusion in education, which is the term that we are starting to use and is increasingly making more sense from the fieldwork… Is that these children have already been through school, so they are not just pedagogical issues, they also pass through other areas. So, the project here today has a methodology that seeks not only to identify children and adolescents who are infrequent. And we do this based on an agreement we have with the Municipal Department of Education, which authorizes schools to provide us with lists of these students with information for home visits.
ANDREIA MARTINS: So, the child’s situation, the address of the person responsible, telephone… And then we have a group of local organizers, the majority of Maré residents who know the territory, that they go to the homes and try to understand why. that this child is infrequent. Or many times the child has even lost his place at school. So, this is one of the ways, another way to reach children who are out of school… And then we don’t always manage to… We reach these children, not through school lists, but through collective efforts, because some of these children who are not in school have never been to school, they have not been in school for a long time. They are not even identified by the schools. So, we do mutirões, which is to choose an area in a favela; the team stays there all day talking with the residents and then trying to understand the situations of the children there and, through referrals, we interview the families. And then we try to understand why the child is out of school. When it’s just a matter of vacancy, due to lack of information… Because some families also understand that the student did not register at the beginning of the year, he cannot enter school — and the legislation provides that no, the child can enter any time during the school year. So, when it’s a question for them, we coordinate with the school and try to get the place.
ANDREIA MARTINS: And the child remains in school, but sometimes there are other documentation issues, health issues. Children are sick, they can’t get medical care, so they can’t go to school. The point is that assistance can contribute. So the project has a perspective not only to accompany the child itself, and the family in accessing and staying in school, but also to create a support system that can guarantee that this child continues in school and beyond. What we also notice is that the majority here is not a surprise. Most of those responsible for these children are women, mostly black, who have low schooling or who, for some reason, are experiencing a situation of violence. Not only physical violence but, finally, some kind of violence that interferes with the family dynamics and that ends up also contributing to the child not having the process of regular schooling. And then we also try to do something and some referrals that can also strengthen this woman. So, just to illustrate, we have a mother with two children, two girls who were having difficulty keeping up with school and a lot of conversation and bonding with the resident… This woman aroused interest in studying the subject. So we referred to a literacy project of the network itself.
ANDREIA MARTINS: She also went to a gastronomy course, because oftentimes, violence, violence, the different types of violence that a woman can suffer at home also go through an economic dependence on her partner, a dependence that she places, that it guarantees the support of the family, food for the children and then she ends up not getting out of this situation because she would not be able to support herself. So, this strengthening also of families and especially of women, because they are the majority, are responsible for the schooling process of their children… This is also part of the project. And this intersectoral policy thing, which is a fragility of our lives, our city halls and our municipal governments. You, sometimes, you have the same child assisted by different government programs, by different secretariats and there is no articulation. And then, with that, you fragment the individual too much and you don’t optimize the resources of public policies. Anyway, so we also try to provide this type of support to the population. We understand that the active school search, this project, we already have… As I said a long time ago, in the partnership with the Malala Fund, which started on April 1st, which is precisely in the year of the pandemic, 15 days after the pandemic… And then we understand that today it is even more necessary to take care of these children and adolescents who were out of school during the pandemic.
ANDRESSA PELLANDA: Thank you very much for your participation, Andreia. You can access the Redes da Maré research cited in this episode on the website redesdamare.org.br.
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