Rosana Fernandes
Education and politics at the Florestan Fernandes National School
How can the experience of political struggle be transformed into the training of educators and popular activists?
Today we talk about the ENFF (National School Florestan Fernandes), one of the main educational institutions dedicated to the political formation of social movements.
Let’s find out how this political project is linked to the education for rural people. We will learn how the dimension of work and political struggle in defense of policies for agrarian reform is a motor for the teaching promoted by the ENFF.
Rosana Fernandes, our guest, has been the school’s general coordinator since 2014. She is a PhD candidate in education at the University of Campinas (Unicamp); she has a master’s degree in Territorial Development in Latin America, from Unesp; and holds a Pedagogy graduation degree from UNEMAT – University of the State of Mato Grosso.
ENFF was inaugurated in 2005 and has already received more than 40,000 people from Brazil and other countries, who participated in undergraduate, graduate, free and specialization courses taught by more than 500 volunteer professors/practitioners.
The school is located in the city of Guararema, in São Paulo’s state countryside, and it occupies an area of 120 thousand square meters, built by the hands of activists from settlements and camps of the Brazil’s Landless Workers Movement.
Como a vivência da luta política pode se transformar em formação de educadores e militantes populares?
Neste episódio do Eduquê, traçamos um perfil da ENFF (Escola Nacional Florestan Fernandes), uma das principais instituições educacionais voltadas para a formação política de movimentos sociais.
Vamos saber como este projeto político está ligado à educação do e no campo. E vamos conhecer como a dimensão do trabalho e da luta política em defesa da reforma agrária se conectam com o ensino promovido pela ENFF.
Rosana Fernandes, nossa convidada, é coordenadora-geral da escola desde 2014. Ela faz doutorado em educação na Universidade de Campinas (Unicamp); tem mestrado em Desenvolvimento Territorial na América Latina, pela Unesp; e é pedagoga formada pela UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso.
A ENFF foi inaugurada em 2005 e já recebeu mais de 40 mil pessoas do Brasil e de outros países, que participaram de cursos de graduação, pós-graduação, cursos livres e de especialização ministrados por mais de 500 professores voluntários.
A escola fica na cidade de Guararema, no interior de São Paulo, e todo o complexo ocupa um terreno de 120 mil metros quadrados, construído pelas mãos de militantes de assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST).
RUI DA SILVA: Rosana, seja muito bem-vinda ao nosso podcast Eduquê.
ROSANA FERNANDES: Muito obrigada! É um prazer estar aqui com vocês, para a gente compartilhar algumas informações, algumas reflexões sobre o que é o MST, o que a Escola Nacional Florestan Fernandes vem fazendo em torno do debate da educação.
RUI DA SILVA: Muito obrigada e tão boa surpresa. De facto, antes de nós começarmos a falar um pouco mais sobre o que é a Escola Nacional Florestan Fernandes, se calhar, a primeira pergunta que queríamos fazer é principalmente para os nossos ouvintes que não estão familiarizados com o que é educação no campo ou educação do campo. Pode nos explicar qual é esta diferença?
ROSANA FERNANDES: Sim, podemos dizer que educação do campo é um projeto político pedagógico, que os movimentos populares, ou, como a gente chamava anteriormente, os movimentos sociais brasileiros, vinham construindo e agora já consolidado, de um projeto de educação para o campo brasileiro, o MST. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é um dos principais protagonistas dessa articulação, que juntou outros movimentos populares do campo brasileiro. Porque o MST, desde a sua origem, traz esse debate da educação permanentemente, assim como o lutar pela terra. A luta pela educação pública também é uma das bandeiras fortes dentro do Movimento Sem Terra. Então, já vinha desde sua origem, no final da década de 1970, e foi se consolidando um uma proposta pedagógica do MST para as escolas públicas que já passaram a existir nos assentamentos e nos acampamentos onde o MST organizava as famílias. Mas houve uma necessidade dessa ampliação junto aos outros movimentos populares. Então, a partir daí são realizadas algumas atividades nacionais. Nós temos em destaque nessa história, já da discussão da educação do campo com os demais movimentos populares, duas conferências nacionais, seminários nacionais, seminários estaduais, debate com o Ministério da Educação, também para assumir a proposta pedagógica de educação do campo, aqui considerando especialmente, além desse processo histórico e dos eventos realizados para ir consolidando essa proposta de que educação do campo se faz com os sujeitos que vivem e sobrevivem no campo brasileiro dos assentados, da reforma agrária. Que são um público que diz respeito mais diretamente ao próprio MST ou de outros movimentos como a Contag, como o Movimento dos Atingidos por Barragens também, que estão reassentados. E essas áreas passam a ser de organização do Estado a partir do Incra e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Enfim, mas também sujeitos como os ribeirinhos, como os pescadores, como os povos da florestas, com exceção dos povos indígenas, que têm uma política de educação específica já consolidada. Então, educação do campo significa construir uma escola que tenha um projeto de educação que possa respeitar os sujeitos que vivem e sobrevivem no campo brasileiro. E educação no campo é o que até então ainda existe. Mas até não termos essa articulação nacional da educação do campo… Era o que “sobrava”, vamos dizer assim, entre aspas, para o campo brasileiro. Então é estar no campo. Mas é uma educação que é levada para o campo e não construída com os sujeitos do campo. O que nós defendemos hoje é uma educação no campo e do campo, que esteja lá naquele território, mas que seja construída junto com os sujeitos que vivem no campo, que produzem comida, mas que produzem também conhecimento ao estar atuando nas comunidades camponesas.
RUI DA SILVA: Obrigado. Acho que agora está mais claro do que é esta diferença então no campo e no campo. E é muito interessante perceber esta não e esta interligação de no campo e do campo. E entretanto também se calhar para os nossos ouvintes, que não estou tão familiarizado com o MST assim muito brevemente. Eu sei que é difícil, mas muito brevemente. O que é o MST?
ROSANA FERNANDES: O MST, de forma muito breve é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil, que é fundado oficialmente em 1984. Nós estamos em 2022, completando 38 anos de existência histórica na luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação da sociedade. Esses três objetivos é o que orienta, são os que orientam a luta que o MST faz. Então, a luta pela terra, que é de organização das famílias que não têm terra na sua condição social, de não ter a terra e que busca numa organização popular. Muitos dessas famílias acabam integrando ao MST para conquistar essa terra. Tem um critério também utilizado pelo próprio Incra e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, que determina quem pode ser sem terra na condição social de poder lutar por um pedaço de terra. É de responsabilidade do Estado garantir. Então, o MST utiliza desses critérios também para essa organização das famílias. Então, a luta pela terra é, vamos dizer assim, é o objetivo que mais atrai as pessoas a estarem no MST de melhorar sua condição de vida. O segundo objetivo, que é a luta pela reforma agrária, porque na nossa compreensão, a terra é insuficiente para as famílias sobreviverem com dignidade. Então, é preciso, para além da terra, ter um conjunto de elementos que vai organizar a vida desses sujeitos no território conquistado. Aí tem a ver com a educação. Por isso, a luta pela educação, pela escola pública, nos territórios é uma bandeira permanente do MST. A luta pela saúde pública também nos territórios. É ter médicos, é ter postos de saúde, de ter um atendimento com qualidade nos centros urbanos próximos. Aonde estão esses assentamentos, acampamentos, estrada que tem a ver com infraestrutura, estradas, assim como condições de transporte, de comercialização dos produtos que são produzidos nos territórios de recurso público que possa incentivar essa produção, assim como a moradia, que também é uma luta de ter moradias dignas para as famílias que vivem no campo.
ROSANA FERNANDES: Então, reforma agrária é um conjunto de elementos nos quais alguns desses estão postos, assim como a cultura como lazer, como as condições dele de relações humanas, sociais que são estabelecidas nos territórios e o objetivo da transformação social, porque tudo isso tem uma relação com um novo projeto de sociedade. Nós não temos dúvida, enquanto o Movimento Sem Terra, de que o socialismo é das experiências históricas que já vivenciamos, que conhecemos no mundo, é um dos sistemas que mais está próximo daquilo que nós almejamos para uma sociedade igualitária. Então, esses três objetivos, os 38 anos do MST e as principais bandeiras de lutas que temos construído em 24 estados, onde o MST está organizado até os dias de hoje, com diferenciações de um Estado para outro, de uma região para outra… Porque tem isso na nossa geografia brasileira, né? Mas nós já contabilizamos aproximadamente 450.000 famílias que já conquistaram a terra e vivem nos territórios onde o MST continua organizando. É mais ou menos 80.000 famílias que estão nos acampamentos. Então, acampamento é um processo anterior. A conquista da Terra é onde as famílias se organizam para fazer a luta pela terra. Nos assentamentos já é na terra conquistada e que continuam lutando por outras necessidades desse conjunto de elementos que contribuem para efetivação da reforma agrária.
RUI DA SILVA: Obrigado. Eu acho que agora estamos contextualizados. Então se calhar agora. Porque nesses princípios que nos explicam do MST e principalmente a questão da transformação do Sul. E depois do que nos explicou o que é educação do campo e como é que o conhecimento e as vivências do dia a dia das populações são trazidas para a escola? Então pode nos falar um pouco como a Escola Nacional Florestan Fernandes transforma esta prática diária, desta luta social, desta transformação social no seu dia a dia? Pode nos falar um pouco sobre isso?
ROSANA FERNANDES: A Escola Nacional Florestan Fernandes é resultado de um acúmulo que o próprio MST vem fazendo ao longo da sua história. Ela é uma escola que não é pública, não é uma escola de processos de escolarização. Na sua natureza, ela é uma escola de formação política e ideológica de militantes, dirigentes e quadros das organizações populares brasileiras, que está além, para além dos movimentos populares de camponeses. Mas para a classe trabalhadora brasileira, para as organizações populares da América Latina, é de 2015 para cá, especialmente, nós estamos atendendo demandas que têm nos colocado na responsabilidade de organizar processos e formações para organizações populares de outros continentes para além da América Latina. Então nós dizemos, em síntese, que a ENFF, a sigla que nós denominamos da Escola Nacional Florestan Fernandes, ela é uma escola da classe e para a classe trabalhadora mundial. E aqui um valor, um princípio bastante valoroso para nós, bastante necessário, ao pensar uma escola para o mundo, que é o valor do internacionalismo, que não é só a presença de pessoas de outros países na escola, mas sim a construção de uma prática social que é de um processo de formação que vai levar uma prática social de mudanças em todos os países onde tivermos povos em luta e resistência que em busca do que almejam conquistar seus objetivos e transformações sociais. Nós temos então vários cursos que acontecem na escola que vai contribuindo para essa formação e essa transformação da própria prática da prática social, que são cursos para organizações populares do Brasil, cursos para as organizações populares latino-americanas e cursos para outros continentes.
ROSANA FERNANDES: E nós temos como fundamento do nosso, da nossa prática, no jeito de fazer esse processo de educação política, algumas dimensões que estão dentro dos nossos programas de curso e sempre ressaltamos na nossa prática… Seis dessas dimensões. Tem a dimensão do trabalho que está lá no fundamento da pedagogia socialista do trabalho como um princípio educativo. Então, as pessoas que vêm para a escola em alguma atividade, em algum curso, têm essa prática cotidiana de fazer o trabalho da sua subsistência no tempo que está na escola e ao fazer o trabalho, não é só para ter o resultado do trabalho feito, mas ao fazer também está passando por um processo de formação da sua fé, da sua pessoa, da elevação da consciência. Porque fazer o trabalho da limpeza do refeitório, por exemplo, de organização do seu próprio quarto? Aqui não temos pessoas que estão à disposição para fazer esse tipo de trabalho, diferente de um hotel ou de outros espaços, às vezes, que são organizados nessa perspectiva. Então, a dimensão do trabalho, a dimensão da mística… A mística. O MST foi constituindo numa referência bastante comum às comunidades de base da Igreja progressista, que foi muito forte aí na década de 1970, 1980, que é da gente poder fazer com que o futuro chegue mais próximo de nós a partir daquilo que nós vivenciamos, através das músicas, através das poesias, através das nossas simbologias, das organizações populares.
ROSANA FERNANDES: Tem suas bandeiras, tem suas simbologias. Então fazer memória a história do povo, dos povos, do mundo. Daí a partir de cada atividade que está acontecendo, vai determinando. Por exemplo, hoje celebramos na mística, aqui na escola, uma referência à luta dos povos palestinos, né? Então, de fazer essa memória e reconhecer essa resistência dos povos do mundo, a dimensão, a terceira dimensão que nós trabalhamos, é a dimensão da organicidade, que é o jeito como as pessoas, estudantes que estão na escola se organizam. Então têm responsabilidades de coordenação, de organização em pequenos grupos para estudo, para o trabalho, de autogestão. Então tem uma coordenação na escola que sempre é coletiva e que os estudantes também integram a esse jeito de funcionar da escola o período que está aqui, a dimensão da arte, da cultura e da… Aqui com referência à arte e cultura popular, em contraponto à cultura de massa. Então, que tipo de música que a gente ouve na escola? As atividades culturais que organizamos? O que é relevante estar aí pra gente, desconstruindo valores da sociedade capitalista e irmos construindo novos valores na perspectiva de uma sociedade transformada e os valores humanistas socialistas é outra parte das dimensões também da própria escola. Consideramos bastante o valor da solidariedade, do companheirismo, do respeito, da beleza.
ROSANA FERNANDES: Então, são valores que nós queremos para nova sociedade que estamos construindo. E a sexta dimensão, que é a dimensão do estudo. Então tem um programa, tem educadores, educadoras que estão em determinados momentos na sala de aula ou construindo possibilidades diferentes dentro da perspectiva da educação popular, de apreensão dos conhecimentos já desenvolvidos pela humanidade. Então o estudo também é preciso a gente conhecer para poder transformar. Então também temos constituído isso. E é nessa, nessa vivência cotidiana que, dependendo do curso e de uma semana e de um mês, ou são de três meses, que é o curso maior que nós temos na escola, tudo isso vai acontecendo ao mesmo tempo. Não é que essa semana a gente vai trabalhar sobre mística, na outra a gente trabalha sobre organicidade todos os dias. Todas as dimensões são inter-relacionadas, são vivenciadas e acreditamos que aí está a essência desse processo de formação que leva os sujeitos que estão aí sendo professores, sendo militantes, ativistas para a elevação da sua consciência e de estar num processo aqui na Escola Nacional, na perspectiva de que vai acumular para sua melhor qualificação como militante ou como educador, seja não a escola do campo, uma escola pública, seja na sua organização, na tarefa que você tem organicamente, mas que vai contribuir para seu aperfeiçoamento, vamos dizer assim, na perspectiva dos objetivos que cada organização vai tendo, mas com um horizonte na transformação da sociedade pela classe trabalhadora.
RUI DA SILVA: A escola foi batizada em homenagem ao sociólogo e político brasileiro Florestan Fernandes. Pode dizer quem foi e como este legado do deste sociólogo e político brasileiro Florestan Fernandes ainda está presente na escola?
ROSANA FERNANDES: Eu vou fazer muita referência ao MST, porque a escola tem essa sua essência. É resultado desse processo formativo do próprio MST. Então, a direção Nacional do Movimento decide construir um espaço, uma escola que pudesse ser mais centralizada geograficamente. Por isso, a decisão de ser em São Paulo, próximo ao Aeroporto Internacional de São Paulo, então também porque já tinha essa perspectiva de acolher pessoas de outros países em atividades e em processo de formação. E também que pudesse homenagear um professor, um sociólogo renomado que tinha falecido em 1995. Porque essa decisão que a direção nacional do MST toma foi em 1996, de construir esse espaço em 1997. Ao mesmo tempo, a gente faz essa comparação de que no MST muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. Em 1997, o MST realizou a primeira marcha nacional, que foi para cobrar a punição aos mandantes dos assassinos do massacre de Eldorado dos Carajás. E nesse mesmo período o MST está decidindo qual é o nome que a escola dos sem Terra vai ter. Então a gente faz uma marcha de dois meses de vários pontos do país para chegar em Brasília no dia 17 de abril de 1997. E aí a gente já vai também construindo a própria definição de quem será homenageado. E como já estava em 95, né? Já tínhamos perdido do ponto de vista físico, o professor Florestan Fernandes.
ROSANA FERNANDES: Então não tivemos dúvida de ser essa a homenagem que essa escola teria o sociólogo Florestan Fernandes. Acho que três características básicas assim que incentivou, que possibilitou o MST decidir por essa homenagem. Que foi a sua coerência de classe. Florestan Fernandes nasce dentro de uma família pobre. Filha de lavadeira e empregada doméstica, que trabalha numa grande casa. E que o filho nasce aí e que não tem as mesmas condições dos filhos dos patrões. E tem que a mãe, junto com a própria criança dá conta da sua sobrevivência e do seu processo de estudos também. Florestan, desde pequeno trabalhou para ajudar a mãe, que, além de ser empregada doméstica e, enfim, ter um salário pouco para dar conta da sustentação, era mãe solo. Então, toda essa história da classe trabalhadora que vivenciamos muito nos dias de hoje. Então Florestan nasce na classe trabalhadora e permanece na classe trabalhadora, mesmo tendo alcançado alcançado níveis de estudo a partir da sua resistência, da sua família, enfim, se tornou também deputado constituinte. Mas em nenhum momento ele deixou de ser, de se reconhecer como parte da classe trabalhadora. Então, a coerência de classe é uma das característica que a gente reconhece muito no legado de Florestan.
ROSANA FERNANDES: O segundo, a segunda característica, foi a defesa permanente da educação pública. Ele sentiu na pele o quanto é difícil um filho da classe trabalhadora construir o seu processo de escolarização nos diferentes níveis. Então, desde a educação básica ao ensino médio até conclusão de um ensino superior e depois ser professor da maior universidade que nós temos no Brasil, que é a USP. Então ele trouxe para nós e deixa como legado essa defesa incessante e incessante da educação pública, como condição para a classe trabalhadora poder estar estudando. E a terceira característica do seu legado, que é tudo isso, está culminado com um projeto de transformação da sociedade brasileira. Não a perspectiva da revolução brasileira ainda ser possível, porque daí não é só daí. São várias outras dimensões que aparecem aí num projeto de sociedade transformada. Então ele não tinha dúvida de se dizer, de se reconhecer socialista. E o projeto de transformação que ele contribuiu na sua elaboração foi um projeto de transformação socialista para a sociedade brasileira. Então, por estas características principais, não temos dúvida que Florestan está vivo dentro da nossa perspectiva de formação e de classe trabalhadora. E na Escola Nacional Florestan Fernandes tentamos cotidianamente fazer valer esse seu legado.
RUI DA SILVA: De facto. De repente… Quando me descreve na altura que foi escolhida o nome da escola e eu lembrei me que em 97 e cá em Portugal, passaram muitas imagens sobre o protesto do MST. E agora, de repente, consegui lembrar a imagem dos protestos que nós víamos cá com. Com a criação da escola. E parece me também quando explicou agora estes três princípios do Florestan Fernandes e o início da nossa conversa também teve aqui que presente. E, entretanto, nós sabemos também que nos últimos anos no Brasil, por exemplo, nos últimos 20 anos, cerca de ou mais de 100.000 escolas do campo foram fechadas. Isto é, não é um movimento só de alargamento destas escolas. Há também esses processos de retrocesso e de fecho destas escolas, tendo por base este movimento e a sua atuação do MST, que já vem de longa data, tendo por base tudo isto e toda a sua experiência. Qual é o conselho ou recomendação que dá para quem está na linha da frente da educação?
ROSANA FERNANDES: A gente sempre aconselha a manter se firme na luta e olhando para a nossa história brasileira, mas olhando de forma geral, também para a história dos nossos países latino americanos e de outros lugares, a conquista dos direitos e a permanência dos direitos para a classe trabalhadora sempre foi realizada a partir da luta e da resistência desses povos. E nós podemos olhar para esse último período no Brasil com um governo que perdeu as eleições agora no dia 30, apesar de não ter reconhecido essa derrota de forma direta, e de que o povo brasileiro se mantém ativo e buscando formas de resistir, por mais que esses últimos quatro anos, com esse mandato último do governo Bolsonaro, muitos direitos foram retirados e, no que tange à educação, foi uma das principais frentes que ele atacou desde a retirada de recursos do orçamento para garantir a condição de ter professores, de ter infraestrutura nas escolas, de ter condições de educação de qualidade… Tem sido bastante, vamos dizer, bastante autoritário nessa perspectiva de uma característica fascista de governar. Um país bastante autoritário com relação às universidades públicas e aos programas de educação que pudessem viabilizar as condições de educação no Brasil e o fechamento de escolas. Não é só nesses últimos quatro anos, como já foi dito, foi nessas duas últimas décadas, especialmente. Muitas escolas foram fechadas no campo e na cidade. O MST. Nessa construção dos direitos educacionais e da bandeira de luta que tem da educação pública e abriu uma campanha já há algum tempo sobre fechar escola é crime porque é um crime contra o ser humano, contra o ser humano em desenvolvimento, de ter a escola para seu processo de escolarização. E tem sido bastante forte esta campanha. Temos que retomar agora que um novo governo vai entrar. Certamente vamos ter muitas lutas ainda. Não vai ser por si só que um novo governo vai poder retomar tudo o que foi perdido. Então vamos continuar certamente com a campanha “Fechar Escola É Crime” e reabrir escolas que foram fechadas e construir novas escolas no campo brasileiro também para os movimentos populares. Nós tínhamos um programa que se chama Programa Nacional de Educação, nas áreas de reforma agrária, que possibilitava o processo de escolarização em nível superior de educadores educadoras das escolas do campo e, de maneira geral, da própria militância das organizações populares. Um programa que começou lá em 1998 e que agora, nesses últimos quatro anos, também está prestes a se extinguir por falta de orçamento. Então, das parcerias, a Escola Nacional Florestan Fernandes faz parceria com instituições de ensino superior com base nesse programa, para poder avançar no processo de graduação e pós-graduações com educadores de escolas do campo.
ROSANA FERNANDES: Então, veja, temos uma demanda muito grande. Nós vamos continuar fazendo a luta por direitos e essa luta por direitos, não só na educação, mas também os direitos trabalhistas, né? Tem muitas, muitas questões aí que foram perdidas ou que foram retiradas do povo. Na verdade, não foram perdidas, foram retiradas intencionalmente. Politicamente, havia a intenção de diminuir esses direitos da classe trabalhadora. Então, o melhor conselho que nós temos é continuarmos lutando e resistindo, e vamos retomar a condição de vida digna de conseguir estar numa sociedade que possa garantir os direitos humanos e sociais do povo. Talvez um desses direitos que hoje está bastante evidente em nosso país é a questão do direito a comer, o direito a se alimentar, o direito a ter comida saudável pelo 3 vezes por dia, o que nesse último período estamos tendo índices de que mais ou menos 33 milhões de brasileiros não tem comida suficiente para se alimentar durante um dia. Então, esse é o grande desafio. Em se tratando de um movimento como o MST, que produz comida, nós não podemos entender ou aceitar que o povo brasileiro, que a classe trabalhadora brasileira não tenha comida todos os dias nas suas mesas.
RUI DA SILVA: Rosana Fernandes, muito obrigado por ter vindo ao Eduquê. E depois desta última frase, em que diz que é da luta, eu lembro-me de uma frase que se usa na Guiné-Bissau, em crioulo da Guiné-Bissau, principalmente dos movimentos, quando o movimento de independência é que se usa, ainda agora: a luta ainda não acabou, a luta continua. E obrigado por nos dar esta perspetiva sobre a Escola Nacional Florestan Fernandes, por nos explicar o que é o MST e por deixar este apelo. A luta continua para a transformação social e para transformarmos a sociedade. Deixemos a sociedade numa sociedade melhor do que encontramos. É o papel da educação neste processo. Muito obrigado por ter estado conosco.
ROSANA FERNANDES: Eu que agradeço, Rui, Muito obrigada. Nós estamos à disposição e fazendo a luta permanente aqui, com Lula presidente. Um abraço.
RUI DA SILVA: Rosana, welcome to Eduquê!
ROSANA FERNANDES: Thank you very much! It is a pleasure to be here with you, for us to share some information, some reflections on what the MST is, what the Florestan Fernandes National School has been doing around the education debate.
RUI DA SILVA: Thank you very much and what a pleasant surprise. In fact, before we start talking a little more about Escola Nacional Florestan Fernandes, maybe the first question we wanted to ask is mainly for our listeners who are not familiar with what education for rural people (in and of the countryside, in Brazilian terms) is. Can you explain to us what this difference is?
ROSANA FERNANDES: Yes, we can say that education in the countryside is a political pedagogical project, which popular movements, or, as we used to call it, Brazilian social movements, had been building and now consolidated, an education project for the countryside Brazilian, the MST. The Landless Rural Workers Movement is one of the main protagonists of this articulation, which brought together other popular movements in the Brazilian countryside. Because the MST, since its origin, has brought this education debate permanently, as well as the struggle for land. The fight for public education is also one of the strong flags within the Landless Movement. So, it came from its origins, in the late 1970s, and an MST pedagogical proposal for public schools was consolidated, which already existed in the settlements and camps where the MST organized families. But there was a need for this expansion along with other popular movements. Then, from there, some national activities are carried out. In this history, we have two national conferences, national seminars, state seminars, debate with the Ministry of Education, also to assume the pedagogical proposal of rural education, in this history especially, in addition to this historical process and the events held to consolidate this proposal that rural education is done with the subjects who live and survive in the Brazilian countryside of the settlers, of the agrarian reform. That they are a public that concerns more directly the MST itself or other movements like Contag, like the Movement of People Affected by Dams as well, which are resettled. And these areas become State organizations based on Incra and the National Institute for Colonization and Agrarian Reform. Anyway, but also subjects such as riverside people, like fishermen, like forest peoples, with the exception of indigenous peoples, who have a specific education policy already consolidated. So, rural education means building a school that has an education project that can respect the subjects who live and survive in the Brazilian countryside. And education in the countryside is what still exists until then. But until we had this national articulation of rural education… It was what was “left”, let’s put it this way, in quotes, for the Brazilian countryside. So is being in the field. But it is an education that is taken to the countryside and not built with the subjects of the countryside. What we defend today is an education in the countryside and from the countryside, which is there in that territory, but which is built together with the subjects who live in the countryside, who produce food, but who also produce knowledge by acting in peasant communities.
RUI DA SILVA: Thank you. I think it is now clearer what this difference is in the field and in the field. And it is very interesting to understand this connection between the field and the field. And in the meantime, perhaps also for our listeners, who are not so familiar with the MST very briefly. I know it’s hard, but very briefly. What is MST?
ROSANA FERNANDES: The MST, very briefly, is the Movement of Landless Rural Workers in Brazil, which was officially founded in 1984. We are in 2022, completing 38 years of historical existence in the struggle for land, agrarian reform and transformation of society. These three objectives are what guide, they are what guide the fight that the MST does. So, the struggle for land, which is the organization of families that don’t have land in their social condition, of not having land and which they seek in a popular organization. Many of these families end up joining the MST to conquer this land. There is a criterion also used by Incra itself and the National Institute of Colonization and Agrarian Reform, which determines who can be landless in the social condition of being able to fight for a piece of land. It is the responsibility of the State to ensure. So, the MST also uses these criteria for this organization of families. So, the struggle for land is, let’s put it that way, it’s the objective that most attracts people to be in the MST, to improve their living conditions. The second objective, which is the struggle for agrarian reform, because in our understanding, land is insufficient for families to survive with dignity. So, in addition to the land, it is necessary to have a set of elements that will organize the lives of these subjects in the conquered territory. It has to do with education. Therefore, the struggle for education, for public schools, in the territories is a permanent banner of the MST. The fight for public health also in the territories. It’s having doctors, it’s having health clinics, having quality care in nearby urban centers. Where are these settlements, camps, roads that have to do with infrastructure, roads, as well as transport conditions, commercialization of products that are produced in territories with public resources that can encourage this production, as well as housing, which is also a struggle to have decent housing for families living in the countryside.
ROSANA FERNANDES: So, agrarian reform is a set of elements in which some of these are placed, as well as culture as leisure, as its conditions of human and social relations that are established in the territories and the objective of social transformation, because all of this it has a relationship with a new project of society. We have no doubt, as the Landless Movement, that socialism is one of the historical experiences that we have already lived, that we know in the world, it is one of the systems that is closest to what we want for an egalitarian society. So, these three objectives, the 38 years of the MST and the main struggles that we have built in 24 states, where the MST is organized until today, with differences from one state to another, from one region to another… Because there is this in our Brazilian geography, right? But we have already accounted for approximately 450,000 families that have already conquered the land and live in the territories where the MST continues to organize. There are more or less 80,000 families that are in the camps. So, camping is a previous process. The Conquest of the Earth is where families organize themselves to fight for the land. In the settlements, it is already on the conquered land and they continue fighting for other needs of this set of elements that contribute to the effectiveness of the agrarian reform.
RUI DA SILVA: Thank you. I think now we are contextualized. So maybe now. Because in these principles that explain the MST and especially the question of the transformation of the South. And after what he explained to us what rural education is and how the knowledge and day-to-day experiences of the population are brought to school? So, can you tell us a little about how the Escola Nacional Florestan Fernandes transforms this daily practice, this social struggle, this social transformation in your day to day? Can you tell us a little about that?
ROSANA FERNANDES: The Florestan Fernandes National School is the result of an accumulation that the MST itself has been doing throughout its history. It is a school that is not public, it is not a school of schooling processes. In its nature, it is a political and ideological training school for militants, leaders and cadres of Brazilian popular organizations, which is beyond, beyond the popular movements of peasants. But for the Brazilian working class, for popular organizations in Latin America, since 2015, especially, we are meeting demands that have placed us in charge of organizing processes and training for popular organizations in other continents beyond Latin America. So we say, in summary, that the ENFF, the acronym that we call the Escola Nacional Florestan Fernandes, is a school of the class and for the world working class. And here is a value, a very valuable principle for us, quite necessary, when thinking about a school for the world, which is the value of internationalism, which is not just the presence of people from other countries in the school, but the construction of a social practice that is part of a training process that will lead to a social practice of change in all countries where we have people in struggle and resistance who, in search of what they want to achieve their goals and social transformations. So we have several courses that take place at the school that contribute to this formation and this transformation of the very practice of social practice, which are courses for popular organizations in Brazil, courses for Latin American popular organizations and courses for other continents.
ROSANA FERNANDES: And we have, as the basis of our, of our practice, in the way of carrying out this process of political education, some dimensions that are within our course programs and we always emphasize in our practice… Six of these dimensions. It has the dimension of work that is at the foundation of the socialist pedagogy of work as an educational principle. So, people who come to school for some activity, for some course, have this daily practice of doing their livelihood work while they are at school and doing the work, it is not just to have the result of the work done , but in doing so, he is also going through a process of forming his faith, his person, raising his conscience. Why do the work of cleaning the cafeteria, for example, organizing your own room? Here we don’t have people who are available to do this type of work, unlike a hotel or other spaces, sometimes, which are organized in this perspective. So, the work dimension, the mystic dimension… The mystique. The MST became a very common reference to the grassroots communities of the progressive Church, which was very strong there in the 1970s, 1980s, which is about people being able to make the future come closer to us based on what we experience, through music, through poetry, through our symbologies, through popular organizations.
ROSANA FERNANDES: It has its flags, it has its symbologies. So remember the history of the people, of the peoples, of the world. From there, from each activity that is happening, it determines. For example, today we celebrate in mystique, here at school, a reference to the struggle of the Palestinian peoples, right? So, to make this memory and recognize this resistance of the peoples of the world, the dimension, the third dimension that we work with, is the dimension of organicity, which is the way people, students who are at school organize themselves. So they have coordination responsibilities, organization in small groups for study, for work, for self-management. So there is a coordination at the school that is always collective and that the students also integrate into this way of functioning at the school the period that is here, the dimension of art, culture and… Here with reference to art and popular culture, against mass culture. So what kind of music do we listen to at school? The cultural activities we organize? What is relevant for us to be there, deconstructing values of capitalist society and building new values in the perspective of a transformed society and socialist humanist values is another part of the dimensions of the school itself. We consider a lot the value of solidarity, companionship, respect, and beauty.
ROSANA FERNANDES: So, these are values that we want for the new society that we are building. And the sixth dimension, which is the study dimension. So there is a program, there are educators, educators who are at certain times in the classroom or building different possibilities within the perspective of popular education, of apprehending the knowledge already developed by humanity. So studying is also necessary for us to know how to transform. So we have also constituted that. And it is in this, in this daily experience that, depending on the course and a week or a month, or three months, which is the longest course we have at school, all of this is happening at the same time. It’s not that this week we’re going to work on mystique, the next week we’re working on organicity every day. All dimensions are interrelated, they are experienced and we believe that this is the essence of this training process that leads the subjects who are there to be teachers, militants, activists to raise their awareness and to be in a process here at the National School , in the perspective that it will accumulate for your better qualification as a militant or as an educator, whether it is not the country school, a public school, or in your organization, in the task that you have organically, but that will contribute to your improvement, let’s say thus, in the perspective of the objectives that each organization has, but with a horizon in the transformation of society by the working class.
RUI DA SILVA: The school was named after the Brazilian sociologist and politician Florestan Fernandes. Can you say who it was and how the legacy of this Brazilian sociologist and politician Florestan Fernandes is still present in the school?
ROSANA FERNANDES: I’m going to make a lot of reference to the MST, because the school has that essence. It is the result of this formative process of the MST itself. So, the National Directorate of the Movement decided to build a space, a school that could be more geographically centralized. For this reason, the decision to be in São Paulo, close to the International Airport of São Paulo, also because I already had this perspective of welcoming people from other countries in activities and in the process of formation. And also that it could pay homage to a professor, a renowned sociologist who had died in 1995. Because that decision that the national direction of the MST took was in 1996, to build this space in 1997. At the same time, we make this comparison that in the MST many things happen at the same time. In 1997, the MST held the first national march, which was to demand the punishment of those who ordered the murderers of the Eldorado dos Carajás massacre. And in the same period, the MST is deciding what name the landless school will have. So we made a two-month march from various parts of the country to arrive in Brasilia on April 17, 1997. And then we started to build our own definition of who will be honored. And since it was already in 95, right? We had already lost from the physical point of view, Professor Florestan Fernandes.
ROSANA FERNANDES: So we had no doubt that this was the tribute that this school would have. I think there were three basic characteristics that Florestan Fernandes encouraged, that made it possible for the MST to decide on this homage. That was its class coherence. Florestan Fernandes was born into a poor family. Daughter of a washerwoman and maid, who works in a large house. And that the child is born there and does not have the same conditions as the bosses’ children. And the mother, along with the child herself, is responsible for her survival and her study process as well. Florestan, since he was a little boy, worked to help his mother, who, in addition to being a maid and, finally, having a salary that was little to support herself, was a single mother. So, all this working class history that we experience a lot these days. So Florestan was born into the working class and remains in the working class, even though he reached levels of study based on his resistance, his family, in short, he also became a constituent deputy. But at no time did he stop being, recognizing himself as part of the working class. So, class coherence is one of the characteristics that we recognize a lot in Florestan’s legacy.
ROSANA FERNANDES: The second, the second characteristic, was the permanent defense of public education. He felt firsthand how difficult it is for a working-class child to build his schooling process at different levels. So, from basic education to high school to the conclusion of higher education and then being a professor at the biggest university we have in Brazil, which is USP. So he brought to us and leaves as a legacy this incessant and incessant defense of public education, as a condition for the working class to be able to study. And the third characteristic of his legacy, which is all of this, culminates in a project to transform Brazilian society. Not the perspective of the Brazilian revolution is still possible, because then it’s not just there. There are several other dimensions that appear in a project for a transformed society. So he had no hesitation in calling himself, recognizing himself as a socialist. And the project of transformation that he contributed to its elaboration was a project of socialist transformation for Brazilian society. So, due to these main characteristics, we have no doubt that Florestan is alive within our educational and working class perspective. And at Florestan Fernandes National School, we try to make his legacy stand out on a daily basis.
RUI DA SILVA: Indeed. Suddenly… When you describe the time when the name of the school was chosen, I remembered that in 1997 and here in Portugal, there were many images about the MST protest. And now, suddenly, I managed to remember the image of the protests that we saw here. With the creation of the school. And it also seems to me that when you explained these three principles of Florestan Fernandes and the beginning of our conversation, you also had this in mind. And yet, we also know that in recent years in Brazil, for example, in the last 20 years, around 100,000 rural schools have been closed. That is, it is not just a movement to expand these schools. There are also these processes of retrogression and closure of these schools, based on this movement and its work by the MST, which has been going on for a long time, based on all of this and all of its experience. What advice or recommendation do you give to those on the front lines of education?
ROSANA FERNANDES: We always advise to remain firm in the fight and looking at our Brazilian history, but looking in general, also at the history of our Latin American countries and elsewhere, the conquest of rights and the permanence of rights for the working class, it has always been achieved through the struggle and resistance of these peoples. And we can look at this last period in Brazil with a government that lost the elections now on the 30th, despite not having recognized this defeat directly, and that the Brazilian people remain active and looking for ways to resist, no matter how that these last four years, with this last mandate of the Bolsonaro government, many rights were withdrawn and, with regard to education, it was one of the main fronts that he attacked since the withdrawal of resources from the budget to guarantee the condition of having teachers, of having infrastructure in schools, having quality education conditions… It has been quite, let’s say, quite authoritarian in this perspective of a fascist characteristic of governing. A very authoritarian country with regard to public universities and education programs that could enable the conditions of education in Brazil and the closure of schools. It’s not just in the last four years, as has been said, it’s been in the last two decades, especially. Many schools were closed in the countryside and in the city. The MST. In this construction of educational rights and the flag of struggle that has public education and opened a campaign some time ago about closing schools because it is a crime against human beings, against human beings in development, to have a school for their own schooling process. And this campaign has been quite strong. We have to resume now that a new government is coming in. We’re certainly going to have a lot of fights yet. It will not be by itself that a new government will be able to recover everything that was lost. So we will certainly continue with the campaign “Close School Is Crime” and reopen schools that were closed and build new schools in the Brazilian countryside also for popular movements. We had a program called the National Education Program, in the areas of agrarian reform, which made possible the process of schooling at a higher level for educators in rural schools and, in general, for the militancy of popular organizations. A program that started there in 1998 and that now, in these last four years, is also on the verge of being extinguished due to lack of budget. So, from the partnerships, Escola Nacional Florestan Fernandes partners with higher education institutions based on this program, in order to be able to advance in the graduation and post-graduation process with educators from rural schools.
ROSANA FERNANDES: So, look, we have a very high demand. We are going to continue fighting for rights and this fight for rights, not only in education, but also labor rights, right? There are many, many issues there that have been lost or that have been withdrawn from the people. In fact, they were not lost, they were intentionally removed. Politically, it was intended to diminish these working-class rights. So, the best advice we have is to keep fighting and resisting, and let’s get back to living conditions worthy of being able to be in a society that can guarantee the human and social rights of the people. Perhaps one of those rights that is quite evident in our country today is the issue of the right to eat, the right to eat, the right to have healthy food at least 3 times a day, which in the last period we are seeing rates that more or less At least 33 million Brazilians do not have enough food to eat for one day. So this is the big challenge. When dealing with a movement like the MST, which produces food, we cannot understand or accept that the Brazilian people, that the Brazilian working class does not have food on their tables every day.
RUI DA SILVA: Rosana Fernandes, thank you very much for coming to Eduquê. And after this last sentence, where it says it’s about the fight, I remember a sentence that is used in Guinea-Bissau, in Guinea-Bissau creole, mainly of the movements, when the independence movement is used, even now: the fight is not over, the fight continues. And thank you for giving us this perspective on Escola Nacional Florestan Fernandes, for explaining to us what the MST is and for leaving this appeal. The struggle continues for social transformation and for us to transform society. Let’s leave society a better society than we found it. It is the role of education in this process. Thanks so much for being with us.
ROSANA FERNANDES: Thank you, Rui, thank you very much. We are available and carrying out the permanent fight here, with Lula as president. A hug.
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